terça-feira, março 25, 2014

Reflexões para o dia. Perdão é bom pra quem?



Pv  19:11 “A discrição do homem o torna longânimo, e sua glória é perdoar as injúrias.”

A vida pode nos ensinar a cada momento, bastando apenas que estejamos abertos para aprender. O tempo passa rápido e vai sedimentando sentimentos e atitudes que podem nos “congelar” diante de determinadas situações. Veja por exemplo um médico que faz plantão em pronto socorro; o cidadão lida diariamente com a morte, vê todo tipo de situação, sangue e no fim, volta pra casa relativamente tranquilo; para a maioria de nós, ver um acidente de trânsito com vítima já causaria um grande trauma.

Ontem de noite, zapeando entre os canais, parei pra ver um instante a novela da globo. E a mulher brigava com seu marido por ele haver perdoado a alguém. Ela estava nervosa e marido apenas  respondia que precisava resolver tal situação e perdoou. Então a mulher colocava diante do marido tudo aquilo que o tal (primo dela) já havia feito. No fim da cena, o casal se abraçou e ele se comprometeu a não mais ter amizade com o outro. (Desculpa, não sei o nome de nenhum personagem, nem a estória toda)
Aí me lembrei da novela anterior, “Viver a Vida” dominada pelo personagem chamado Félix. Aliás, no domingo ele (Mateus Solano, ator) dera uma entrevista para a Marilia Gabriela, e falava de muitas coisas e do sucesso, etc... até que lembrou a relação entre Félix e Cesar, seu pai.
Passaram a novela inteira se pegando, o pai odiando o filho, que se sentia rejeitado e fazia mais maldades (coisas horríveis, bem coisa de novela) e no último capítulo, na última cena, belíssima por sinal, ambos se perdoam e a novela acaba com pai e filho de mãos dadas.
Acredito que em parte novelas retratam a realidade da nossa vida, da sociedade em geral. Aquela atriz que ontem brigava com o marido porque ele perdoara alguém, nos últimos capítulos irá perdoar também. Na nossa vida quase sempre é assim; já vi muitas pessoas brigarem e quando acontece algo ruim, um acidente, a morte de parentes, os leva a refletir sobre a vida e no final, buscam o perdão ou perdoam, porque não vale a pena morrer com rancor.

Daí, claro, fui buscar um exemplo bíblico para comparar; e encontrei José, o grande governador do Egito. Vejamos, José, o caçula de Jacó, sempre foi discriminado pelos irmãos, seja por causa de seus sonhos, seja por sua capa colorida, seja porque ele dedurava os irmãos para o pai, enfim, a Torah diz que eles “o odiaram a ponto de nem poder falar com ele pacificamente”(Gn 37:4)
José era motivo de piada entre os irmãos, acabou sendo jogado num poço, ficou sem sua capa colorida, sem seus pais, foi vendido, se tornou escravo, foi preso, até que a sorte mudou e ele se tornou governador do Egito, após interpretar o sonho do faraó. Depois de sete anos de fartura e mais um ano de fome, no segundo ano, veio o reencontro com seus irmãos. Foram mais de 20 anos de separação. Que tipos de sentimentos José cultivou dentro de si? Ficava ele pensando em se vingar dos irmãos por todo o mal? A bíblia não deixa claro, mas o fato é que, quando Judá se dispôs a ficar preso no lugar de Benjamim, José viu que era chegado o momento de se revelar aos irmãos e diz: “não foi vocês que me enviaram para cá, mas Deus... e eu sustentarei a vocês, porque ainda haverá cinco anos de fome, para que não pereças na pobreza...” (Gn 45:7,8,11)

Jacó viveu ainda mais dezessete anos com seu filho José. Depois da morte do pai, os irmãos de José ficaram com medo dele se vingar e José novamente os reafirma: “Não temais, bem intentastes o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande. Agora pois, não temais; eu vos sustentarei a vós e vossos meninos. Assim, os consolou e falou segundo o coração deles.”(Gn 50:19-21)

Essa foi a glória de José. Perdoar as ofensas! Melhor que isso, não esperar o último capítulo de suas vidas para perdoar.  Dezessete anos depois de se reencontrarem, e após a morte de Jaco, os irmãos ainda tinham medo de uma provável vingança de José. Mas ele, perdoador, já havia se limpado e devolvido todo o mal com o bem havia muito tempo.

Poderiamos cair no lugar comum (mas verdadeiro) das palavras de Yeshua, de que devemos perdoar setenta vezes sete, mas na verdade o melhor é ter a mente livre e tranquila, como José, afinal, toda noite, antes de nos deitarmos, rezamos: “Eu perdôo a doto aquele que me magoou e me zangou, ou que me fez mal, tanto ao meu corpo como à minha propriedade, à minha honra e a tudo que eu possuo; tanto contra a sua vontade ou com a sua vontade, tanto sem querer como premeditadamente, tanto com palavras como com ações; enfim, peço que nenhum ser humano seja castigado por minha causa.” (Sidur, 224)

Não importa o mal que nos façam; seja sem querer ou de propósito; devemos acreditar que o melhor caminho é o perdão; porque isso? porque isso é o que é a nossa glória.


Não espere o último capítulo para perdoar. Não sejamos Mané; Sejamos José.

Nenhum comentário: