Pv 19:11 “A discrição
do homem o torna longânimo, e sua glória é perdoar as injúrias.”
A vida pode nos ensinar a cada momento, bastando apenas que
estejamos abertos para aprender. O tempo passa rápido e vai sedimentando
sentimentos e atitudes que podem nos “congelar” diante de determinadas
situações. Veja por exemplo um médico que faz plantão em pronto socorro; o
cidadão lida diariamente com a morte, vê todo tipo de situação, sangue e no
fim, volta pra casa relativamente tranquilo; para a maioria de nós, ver um
acidente de trânsito com vítima já causaria um grande trauma.
Ontem de noite, zapeando entre os canais, parei pra ver um
instante a novela da globo. E a mulher brigava com seu marido por ele haver
perdoado a alguém. Ela estava nervosa e marido apenas respondia que precisava resolver tal situação
e perdoou. Então a mulher colocava diante do marido tudo aquilo que o tal
(primo dela) já havia feito. No fim da cena, o casal se abraçou e ele se comprometeu
a não mais ter amizade com o outro. (Desculpa, não sei o nome de nenhum
personagem, nem a estória toda)
Aí me lembrei da novela anterior, “Viver a Vida” dominada
pelo personagem chamado Félix. Aliás, no domingo ele (Mateus Solano, ator) dera
uma entrevista para a Marilia Gabriela, e falava de muitas coisas e do sucesso,
etc... até que lembrou a relação entre Félix e Cesar, seu pai.
Passaram a novela inteira se pegando, o pai odiando o filho,
que se sentia rejeitado e fazia mais maldades (coisas horríveis, bem coisa de
novela) e no último capítulo, na última cena, belíssima por sinal, ambos se
perdoam e a novela acaba com pai e filho de mãos dadas.
Acredito que em parte novelas retratam a realidade da nossa
vida, da sociedade em geral. Aquela atriz que ontem brigava com o marido porque
ele perdoara alguém, nos últimos capítulos irá perdoar também. Na nossa vida
quase sempre é assim; já vi muitas pessoas brigarem e quando acontece algo
ruim, um acidente, a morte de parentes, os leva a refletir sobre a vida e no
final, buscam o perdão ou perdoam, porque não vale a pena morrer com rancor.
Daí, claro, fui buscar um exemplo bíblico para comparar; e
encontrei José, o grande governador do Egito. Vejamos, José, o caçula de Jacó,
sempre foi discriminado pelos irmãos, seja por causa de seus sonhos, seja por
sua capa colorida, seja porque ele dedurava os irmãos para o pai, enfim, a
Torah diz que eles “o odiaram a ponto de nem poder falar com ele
pacificamente”(Gn 37:4)
José era motivo de piada entre os irmãos, acabou sendo jogado
num poço, ficou sem sua capa colorida, sem seus pais, foi vendido, se tornou
escravo, foi preso, até que a sorte mudou e ele se tornou governador do Egito,
após interpretar o sonho do faraó. Depois de sete anos de fartura e mais um ano
de fome, no segundo ano, veio o reencontro com seus irmãos. Foram mais de 20
anos de separação. Que tipos de sentimentos José cultivou dentro de si? Ficava
ele pensando em se vingar dos irmãos por todo o mal? A bíblia não deixa claro,
mas o fato é que, quando Judá se dispôs a ficar preso no lugar de Benjamim,
José viu que era chegado o momento de se revelar aos irmãos e diz: “não foi
vocês que me enviaram para cá, mas Deus... e eu sustentarei a vocês, porque
ainda haverá cinco anos de fome, para que não pereças na pobreza...” (Gn
45:7,8,11)
Jacó viveu ainda mais dezessete anos com seu filho José.
Depois da morte do pai, os irmãos de José ficaram com medo dele se vingar e
José novamente os reafirma: “Não temais, bem intentastes o mal contra mim, mas
Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a
um povo grande. Agora pois, não temais; eu vos sustentarei a vós e vossos
meninos. Assim, os consolou e falou segundo o coração deles.”(Gn 50:19-21)
Essa foi a glória de José. Perdoar as ofensas! Melhor que
isso, não esperar o último capítulo de suas vidas para perdoar. Dezessete anos depois de se reencontrarem, e
após a morte de Jaco, os irmãos ainda tinham medo de uma provável vingança de José.
Mas ele, perdoador, já havia se limpado e devolvido todo o mal com o bem havia
muito tempo.
Poderiamos cair no lugar comum (mas verdadeiro) das palavras
de Yeshua, de que devemos perdoar setenta vezes sete, mas na verdade o melhor é
ter a mente livre e tranquila, como José, afinal, toda noite, antes de nos
deitarmos, rezamos: “Eu perdôo a doto aquele que me magoou e me zangou, ou que
me fez mal, tanto ao meu corpo como à minha propriedade, à minha honra e a tudo
que eu possuo; tanto contra a sua vontade ou com a sua vontade, tanto sem querer
como premeditadamente, tanto com palavras como com ações; enfim, peço que
nenhum ser humano seja castigado por minha causa.” (Sidur, 224)
Não importa o mal que nos façam; seja sem querer ou de
propósito; devemos acreditar que o melhor caminho é o perdão; porque isso?
porque isso é o que é a nossa glória.
Não espere o último capítulo para perdoar. Não sejamos Mané;
Sejamos José.
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