quinta-feira, setembro 26, 2013

A quem honrar?




Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto;
a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. (Rm 13:7)

 
Tudo aquilo que plantamos, é o que colheremos, no seu devido tempo. Sempre acreditei nisso e continuo a acreditar, afinal, há tempo para todas as coisas, para todo propósito.
 
Também sempre acreditei que somos todos partes de um mesmo povo, todos igualmente importantes, embora uns tenham funções de maior destaque, outros menos, outros aparentemente sem importância (aos nossos olhos). Quem define o que é ou quem é mais importante somos nós mesmos, porque D-us nos deu talentos diferenciados a um e outro, e cada um deve trabalhar dentro dos seus próprios talentos, não os enterrando, mas fazendo-os florescer para o bom andamento da Kehilah.
 
No dia 6 de outubro próximo o Rosh Ezrah ben Levy receberá o reconhecimento de "Honoris Causa" por uma faculdade brasileira. Esse título normalmente é oferecido a pessoas de grande prestígio ou pessoas que prestaram relevados serviços à sociedade em determinada área. No caso dele, é um reconhecimento pelo mérito de sua sabedoria em ciências da religião judaica.
Como sempre gosto de dizer que somos um povo, e ontem na nossa festa de Simchat Torah mencionei, ao citar esse reconhecimento, de que o Sefer Torah que temos em nossa congregação não é meu, nem da Beit PG, mas de todos nós, do povo da Congregação Israelita da Nova Aliança, da mesma forma compartilho as vitórias e derrotas, com os méritos de todos. Por isso, no próximo dia 6 de outubro, a CINA deve se orgulhar por um de seus líderes estar recebendo tal honraria.
Honrarmos alguém não significa endeusarmos, mas simplesmente (a meu ver) incentivarmos a que continue crescendo e compartilhando de seus dons com todos.
Dias atrás escrevi um post aqui honrando nosso chazan em Ponta Grossa, não para diminuir aos demais, mas para incentivá-lo, e ele sentir que o trabalho é reconhecido e tem seus méritos.
 
Há vários anos atrás, em nossa primeira caravana a Israel, o Rosh Ezrah, cheio de alegria, assim como muitos outros, chorava em muitos dos lugares que visitamos, até que chegamos ao Museu da Diáspora, em Tel Aviv... e durante a visita, a guia do local dirigiu-se a ele dizendo algo assim: "Onde você aprendeu tudo isso menino?" E ele respondeu: "O que os rabinos vivos não me ensinaram, os rabinos mortos me ensinaram em seus livros." São esses anos de leitura que hoje conferem ao Rosh Ezrah o reconhecimento de Honoris Causa. Conhecimento que ele compartilha a cada shabat com a congregação de Curitiba e de todo o Brasil através das transmissões ao vivo pela tvisraelita.
 
É assim gente, não devemos trabalhar, estudar, para buscar mérito humano, e no seu devido tempo, esse reconhecimento acaba vindo. Se não vier da parte dos homens, vem da parte de Deus.
 
Eventualmente, eu e o Rosh Ezrah temos pensamentos divergentes, em questões de direção, pontos de vista, mas o reconhecimento deve sempre existir. Gosto de ler também, embora leia menos, e meus livros quase sempre são voltados a outros aspectos morais da nossa fé. Não por acaso trabalho como "Pastor de Ovelhas" e não como "Mestre".
 
A CINA precisa de pessoas dispostas a crescer espiritualmente para continuar seu trabalho. Pessoas dispostas a estudar, aprender, seja em quais áreas forem. Hoje, digo que Shaul HaShaliach escreveria: "Ele mesmo pôs uns para mestres, outros para pastores, outros para chazanin, outros para itinerantes, outros para auxiliares, e outros para cada uma das funções de nossa fé". Precisamos de pessoas dispostas a trabalhar, cada um na sua área, e pessoas não dispostas a buscar honrarias, embora ela venha, como hoje vem ao Rosh Ezrah.
 
E como citei, no verso inicial: "a quem honra, honra." Se uma faculdade que nada tem a ver com nossa fé reconhece isso num de nossos líderes, devemos prestigiar. Então quem quiser e puder estar na Kehilah Sede, na data marcada para prestigiar, estará tambem demonstrando o reconhecimento à nossa liderança. Se não puder prestigiar ao vivo, assista pela internet pois provavelmente será transmitido pela tv israelita.
 
Que venham mais líderes, mais roshim, e que sejam dignos de duplicada honra aqueles que governam bem e se afadigam na palavra e na doutrina, ou seja, ensinando e pastoreando o povo, conduzindo-os no caminho certo.
 
*** As fotos que usei neste post são de uma viagem que fizemos a New York, em maio de 2011 e retratam momentos de descontração, porque também líderes tem direito a relaxarem de vez em quando.
 

domingo, setembro 22, 2013

Estátuas de sal


Ontem durante o arvit na nossa kehilah em Ponta Grossa fizemos uma breve meditação sobre Gn 19 e a triste história de Ló.
A história começa repetindo basicamente o que ocorrera no capítulo anterior com Avraham. Ló recebeu anjos e assim como nosso Patriarca, ele correu para os hospedar e ofereceu o melor que podia a eles. A diferença está na atitude seguinte, pois Avraham queria que os seus ushpizin ficassem por mais tempo e Ló, queria logo os dispensar. Ora, dispensar anjos? Aí sou obrigado a me lembrar do texto de Hebreus 13:2 que diz que alguns, sem o saber, hospedaram anjos.
 
Aí os anjos falam a Ló para ele fugir da cidade, sair imediatamente de Sodoma e Gomorra, e a quem Ló se dirige primeiro? Aos pretendentes de suas duas filhas. Juro que não consigo entender, o anjo de Deus lhe dá um aviso importante e quem são as primeiras pessoas que você vai falar? Os genros acharam que Ló brincava com eles e não quiseram ir. Tem gente que é exatamente assim... Dá mais valor a terceiros do que às próprias filhas? Ainda não tenho uma filha, mas imagino que as pessoas mais importantes da minha vida são a minha esposa e meus filhos. Imagino não, tenho certeza.
 
Aí o anjo os apressa, pega pela mão e força-os a sair e diz: "corram, sigam para o monte, e não olhem para trás." Recomendações simples demais, é fácil de se cumprir. E porque não fazemos? Primeiro eles enrolam, como alguém que fica em casa, se atrasando, arrumando a mala, pois não pode esquecer o casaquinho das crianças, o chinelo, o lanchinho durante a viagem, etc... se enrolam. Tem coisas que são urgentes, e por isso eu digo... faça o que é urgente, o resto é só o resto.
 
A mulher de Ló olha pra trás, e novamente desobedece, e transforma-se numa estátua de sal. Na vida, as vezes temos que fazer assim. Seguir em frente, não olhar para trás. Existem coisas que são destinadas a ficar para trás, no passado. Caso contrário seremos tão somente pessoas presas em estátuas de sal. Estamos iniciando o ano de 5774 de nosso calendário, é possivel deixar pra trás o passado e olhar pra frente? Acho que sim! A gente precisa na vida olhar pra frente, se fosse para olharmos para trás, D-us não colocaria olhos na frente de nosso rosto, mas nas costas.
 
Aí o anjo fala pra Ló fugir e o rapaz ainda tem a petulância de falar para o anjo que não queria de tal forma, se for pra fugir tinha que ser do jeito dele, para a cidadezinha que ele quisesse, e foi para Zohar (o anjo consentiu, mas não porque Ló estivesse certo, e sim pra não prejudicar a pequena cidade). Fico abismado como as pessoas não admitem estar errados, e mesmo que admitam, tudo tem que ser do jeito delas. Ah! Ló, seja um pouco menos prepotente, humildade não faz mal a ninguém. Ele ainda se achava no direito de escolher... a gente não precisa disso! Reconhecer-se errado (e Ló errou, indo pra Sodoma) pode ser bom de vez em quando.
 
No fim de todo o texto, em Gn 19:29, está escrito que D-us teve misericórdia de Avraham, lembrando-se dele, e livrou a Ló daquele lugar. Ló não foi liberto porque era justo, mas sim pela misericórdia que D-us tinha para com Avraham.
 
Nesse ano de 5774, tenhamos a capacidade de olhar para frente, seguir em frente, e aceitar que não somos tão bons quanto parecemos, e que carecemos da misericórdia de D-us. Devemos nos apegar a Ele, porque como eu digo, há coisas importantes na vida, D-us, familia, kehilah, mas o resto é só o resto. E quando digo resto é só o resto mesmo, trabalho, dinheiro, carros, inveja, sentimentos ruins, brigas, ciumes, holofotes, ....  tudo é vaidade. Que tenhamos um ano voltados para a frente, rumo ao que é bom, com olhos voltados para o futuro, para fazermos do Olam HaZeh uma antesala, um preparatório para o Olam Habah. Um abraço!

segunda-feira, setembro 09, 2013

Yachne, nosso chazan, motivo de boas lágrimas!

 
“Ainda que o homem viva muitos anos, regozije-se em todos eles; contudo, deve lembrar-se de que há dias de trevas, porque serão muitos. Tudo quanto sucede é vaidade. Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas.  Afasta, pois, do teu coração o desgosto e remove da tua carne a dor, porque a juventude e a primavera da vida são vaidade. Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer;” (Ec 8:8 a 9:1)
 
Dias atrás estávamos no shacharit em nossa congregação e minha esposa olhou em minha direção e meus olhos lacrimejavam, e então ela disse: NÃO VAI CHORAR! Eu sorri e respondi: É DE ALEGRIA. Na maioria das vezes lágrimas são sinônimos de tristeza e dor, mas nesse caso era de alegria. E eu explico:
 
Sempre acreditei que devemos ser positivos, que devemos olhar para as coisas boas, e tentar deixar de lado as tristezas. A vida de um rosh é cheio desses momentos, tanto alegres quanto tristes; muitas pessoas nos causam decepção, nos fazem chorar, mas há aquelas que nos dão grandes alegrias. E prefiro ressaltar as qualidades das pessoas e há muitas boas pessoas em nosso meio, ao nosso redor. Dou graças a D-us por muitas delas.
Há más pessoas também, claro, mas essas é melhor não citar, para não causar mais mal.
 
Há cinco anos trabalho na Kehilah de Ponta Grossa, e sempre tivemos um revezamento de dirigentes de serviços religiosos. Cada dia um fazia o shacharit, outro o arvit, outro a havdalah, até que a oportunidade foi dada para um jovem, o Yachne (Danilo). Pronto! Era tudo que ele precisava... (as vezes, tudo que alguém precisa é de um incentivo!)
 
De tudo que nos tem acontecido, desde que iniciamos as reformas na Beit PG, a chegada da Torah, enfim, uma das melhores coisas foi ver a evolução desse jovem. Sinto-me gratificado por poder ter sido o líder que deu a oportunidade a ele. O resto, foi só incentivar o crescimento e ele fez sozinho.
 
Já li vários livros judaicos e em alguns deles é dito que o chazan (pessoa que conduz as preces) tem que inspirar pessoas a cantar e rezar ao Eterno. Ele é o responsável por trazê-las para um momento de comunhão com o Eterno. Para falar a verdade, viajo para muitos lugares, vejo muitos serviços religiosos, inclusive nas idas a Israel, Estados Unidos, etc...  e não existe um lugar onde eu me sinta tão inspirado pelo chazan quanto em nossa congregação.
 
Sinto-me um privilegiado a cada shabat. A Shechinah Divina paira sobre a nossa kehilah e sinto um prazer em cantar... Sento-me sempre na primeira fileira, não olho para trás, não vejo ninguém, é um momento intimo entre o Eterno e eu, em que sinto que minhas preces são levadas, minha adoração, meu melhor aparece diante do Eterno, e as vezes, lágrimas descem, mas não de tristeza, da mais completa alegria e satisfação no Eterno.
 
Quando iniciamos o Ma Tovu... e dizemos: "Seja, ó Eterno, esta hora de minha prece, hora favorável perante Ti; ó Deus, ouve-me com a multidão da Tua misericórdia e responde-me segundo a verdade da Tua salvação" sinto-me tomado, creio que Ele ouve minha prece, e responde-me, me dando uma porção do Seu Espírito. E sei que essa sensação boa veio graças ao trabalho excelente do meu chazan.
 
Se minha explanação da parashah é boa, se é excelente em algumas vezes, é porque me senti inspirado e a inspiração veio de D-us, mas não porque sou capaz, e sim porque Ele ouviu minha prece, que foi levada a Ele na voz inspiradora do chazan.
 
Quero publicamente, nesse início de 5774, expressar minha gratidão ao Eterno por ter me dado a oportunidade de trabalhar com esse menino, que me inspira a continuar trabalhando.
 
Há muita gente capaz em nosso meio, e espero que se espelhem em seu bom exemplo, de alguém que exteriormente só exibe a beleza de um interior dedicado a HaShem. Que eventualmente é mal visto na sociedade, que chama a atenção pela aparência, mas que não se importa se é motivo de zombaria diante dos demais jovens nas ruas.
 
Deixo aqui minhas palavras de admiração, porque que bom seria se tivéssemos mais Danilos (eu sei que temos outros jovens valorosos como ele). Jovens que se preocupam em fazer o correto, que carregam em seus celulares canções de louvor a HaShem, preces, e não apenas e tão somente cantores seculares. Jovens que se dedicam a estudar Torah, Talmude, Shulchan Aruch e não se preocupam em aprender a ultima musica da moda. Jovens que bebem do Espírito e não se embebedam com o vinho alvoroçador. Jovens que se sentam com seu rosh para aprender da Torah... e por muitas vezes, acabam ensinando. Jovens que ouvem conselho, e não se sentem superiores.
 
Longe, longe, muito longe de mim achar que sou bom, perfeito, mas sei que tenho o mérito de ter de alguma forma ajudado a fazer florescer este talento na CINA. Tenho o privilégio de ter ao meu lado outros jovens de tão grandes valores espirituais, como o David e o Maxwell (de Prudentopolis).
 
Agradeço a HaShem porque em meio a algumas lágrimas de tristeza e desapontamento, Ele me propicia derramar lágrimas de um Rosh orgulhoso por ter jovens tão valorosos florescendo dentro de minha Kehilah.
 
 

Bat Mitsvah Jessica! Mais uma oportunidade de alegria e reflexão



No último final de semana tivemos a leitura da parashah de Haazinu, com o cântico de Moshê diante do povo de Israel. Estamos concluindo o estudo da Torah e logo vem a festa de Yom Kipur e depois Sucot. Algo muito significativo para nosso povo, mas que somamos mais um significado no último shabat que passamos na Kehilah de Ponta Grossa.
A ocasião especial do "Shabat Shuvah" marcou também o "Bat Mitsvah" da jovem Jessica. Apesar de já haver celebrado bat mitsvah noutras ocasiões, ela foi a primeira menina da Kehilah de PG que fez a opção por ter a cerimônia. No fim das contas foi pra ela de verdade um "Shabat Shuvah" um tempo de restaurar uma aliança com o Eterno.
 
A Bíblia diz: "De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a Tua Palavra."(Sl 119:9) O Bat Mitsvah não significa que a menina permanecerá nos caminhos do Eterno para sempre, mas representa um passo, uma decisão de se tornar "filha do mandamento". Isso é algo raro, considerando os caminhos que muitos jovens tem tomado em suas vidas, abandonando ao Eterno.
 
Ver um menino colocar seu talit pela primeira vez, ser chamado a ler a Torah, é algo especial, mas uma menina torna-se mais especial ainda. Torna-se um momento único na vida, já que é a primeira e única vez que ela será chamada para ler a Torah, primeira e única vez que a menina se cobrirá com o talit.
E foi especial, como com a Ana Klein, a Jéssica, ainda menina, de salto alto, voz meiga de criança, mãos trêmulas segurando o iad e fazendo a leitura. Não por acaso ao fim, quando ela recebia a chuva de balas, docinhos, ela se despedia de sua infância e agora passava a ser a jovem Jéssica, que passa a ser religiosamente responsável por seus atos.
 
Que seja para ela a decisão final e acertada de usar o Shabat Shuvah e tornar-se para o Eterno, e assim ela preserve seu caminho, observando os mandamentos do Eterno. Mazal tov pra ela, e que mais jovens se decidam pela teshuvah e por se tornarem filhos do mandamento.
 
Só pra constar, caso alguém não saiba, a cerimônia do Bat Mitsvah ocorre quando a menina atinge seus 12 anos. Para o menino, quando ele completa seus 13 anos, tem o seu Bar Mitsvah. Para ambos, esse passo representa o momento de transição, quando deixam de lado os carrinhos e as bonecas da infância e passam para a vida "adulta" e se tornam responsáveis por seus atos.