quinta-feira, março 26, 2015

Reflexões para o dia: Atitude em se lavar os pés



João 13:14 “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.”

Ao Yeshua lavar os pés de seus discípulos, que lição ele tentava transmitir, na noite de seu último Pessach? Essa é a meditação de hoje; antes de continuar a leitura, peço que pare aqui um pouco e medite acerca do que você pensa do ato de lavar os pés. Não continue lendo; pare, pense por alguns minutos e depois volte para ler o restante da postagem.

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Acreditando que você parou e meditou, deve ter chegado à óbvia conclusão que lavar os pés de alguém é um gesto de humildade que Yeshua ensinou aos discípulos, não é? Vamos aos fatos...

1º) Era Pessach, e em Pessach não existe o lava-pés como parte do rito do Seder. 
2º) Era a última noite de Yeshua com seus discípulos. Imagine que você saiba que hoje é seu último dia de vida. Ao chamar seus filhos, que conselhos daria a eles? 
Yeshua preferiu dar o conselho de: “sejam humildes, sempre!”
3º) Lavar os pés era um costume antigo, que já tinha a ver com hospitalidade, humildade, respeito, etc...

Agora vamos a alguns detalhes:
- O rito de Pessach foi instituído em Êx 12, quando os israelitas saíram apressadamente do Egito, rumo à terra prometida. Ali e em nenhum outro lugar sequer menciona a lavagem dos pés nessa cerimônia. Tampouco Yeshua lavava os pés de alguém e não há nenhuma menção disso ter ocorrido anteriormente em nenhuma das vezes anteriores em que ele certamente participou dessa celebração. 
Depois de sua morte, o relato que temos é em 1 Co 11:17-34, quando Shaul HaShaliach fala sobre o Pessach, mas ali ele sequer menciona que lavar os pés de alguém seja parte (nova) do ritual daquela festa. 
Então é preciso entender que, de fato, Yeshua não instituiu o lava-pés como parte da festa. O que ele fez foi “dar uma lição de moral aos discípulos”

- João 13:2-5 fala que: “acabada a ceia,...Yeshua cingiu-se e começou a lavar os pés aos discípulos”
Esses versos nos mostram que a Ceia (o jantar) já tinha acabado, portanto, o lavar dos pés foi fora da cerimônia. 
Quem lavou o pé de quem? O texto mostra que Yeshua lavou os pés dos discípulos e não foi uma troca de presentes, um lavando os pés dos outros. Quem lavou os pés de Yeshua? Ninguém! Ele, o líder, é quem lavou os pés dos doze.
Outra coisa importante, é que Ele não lavou os pés do “povo” mas apenas de seus doze, os que estavam mais próximos a ele.

- “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.  Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também..  Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.” (Jo 13:14-17) 
Que exemplo ele deu? Exemplo de humildade, por isso disse: “se eu sendo mestre fiz isso, porque vocês não poderiam ser humildes também?... se sabeis estas coisas (humildade, porque se fosse lavar os pés, qual adulto não saberia lavar os pés?) bem-aventurados se as praticardes (gestos de humildade)”
Note que o texto NÃO fala que eles começaram a lavar os pés uns dos outros, mesmo Yeshua tendo dito que eles deveriam lavar os pés uns dos outros. Lavar os pés, ser humilde, não é só em Pessach. É na vida, no dia-a-dia que provamos nossa humildade. 

- Lavar os pés era uma prática antiga, desde os dias de Abraão já se fazia isso, num gesto de humildade e hospitalidade. Quer provas?
(Gn 18:2-8) Abraão disse: “não passes de teu SERVO, traremos água para vocês lavarem os pés, e descansar debaixo da sombra da árvore.” 
(Gn 19:1,2) Ló, sobrinho de Abraão, repetiu o gesto de hospitalidade com os anjos do Eterno. 
(Gn 24:32) Eliézer, servo de Abraão, ao buscar uma esposa para Isaque, foi recebido pela família de Labão e lhe ofereceram um lugar para ficar e água para os pés. 

Certa vez Yeshua foi convidado a comer na casa de um fariseu. Lá, uma mulher (pecadora) lavava os pés de Yeshua com unguento, pé regado a lágrimas, e secado com seus próprios cabelos. Que gesto lindo de humildade! 
Isso incomodou o fariseu... é humildade demais, e este reclamou a Yeshua, que respondeu: “Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés, mas esta regou-me os pés com lágrimas e mos enxugou com seus cabelos. Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de beijar os pés, não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com unguento...” (Lc 7:36-50)

É uma preocupação comum hoje, ao chegar perto do Seder, muitas pessoas já escolhem de quem vão lavar os pés, há os que querem lavar os pés do Rosh (só pra se exibirem na festa)  e isso na verdade mostra exatamente quem somos. 
Lavar os pés, ser humilde é todo o dia. É fazer isso em casa, ao receber uma visita, é tratar bem as pessoas. Quando Avraham  trouxe água para os visitantes de Deus, não era Pessach... Quando a família de Rebeca trouxe água para Eliezer, não era Pessach. 

A humildade é a lição, foi isso que pegou o fariseu hipócrita (que queria se exibir, mostrando que Yeshua foi em sua casa para comer). Quem nunca lava os pés aos outros, não vai ser na festa que vai demonstrar uma falsa humildade. 

Em 1 Tm 5:10, ao falar das viúvas dignas, está escrito: “tendo testemunho de boas obras, se exercitou a hospitalidade, SE LAVOU OS PÉS AOS SANTOS...” Isso faz a diferença, o bom testemunho, a humildade. 
Pela última vez, lava-pés não é parte do Pessach, é parte da vida das pessoas humildes. 

***Ps.: Se você ainda não tem uma hagadah de Pessach, solicite a mim que eu envio o arquivo por e-mail ou facebook, para que você possa imprimir.

quarta-feira, março 25, 2015

Reflexões para o dia: Pessach e o pão da miséria


Tg 4:9-11 “Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza.  Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará. Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão e julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz.”

Um dos itens mais conhecidos da festa de Pessach é a matsá, ou pão ázimo, o pão sem fermento e que traz consigo mais do que uma mera simbologia, mas grandes ensinamentos que devem ser praticados ao longo do ano, durante toda a vida e não apenas na festa. Isso explica o motivo pelo qual a meditação de hoje é baseada no texto de Tiago 4, que não fala especificamente da festa de Pessach, mas de nossas atitudes.

A matsá é conhecida também como o pão da miséria, e a Torá a ela se refere como “lechem oni”, o pão da aflição. Quando comemos matsá, não é apenas do fermento que nos libertamos, que sempre traz a analogia da lashon hará, da maledicência, mas também tem o sentido de nos libertarmos de sentimentos de grandeza, de orgulho próprio, de nos acharmos melhores do que os demais, e porque não dizer, também lembrarmos de que um dia éramos escravos, pobres, miseráveis, e hoje somos livres para servir ao Eterno, mas não livres para oprimir, maldizer e humilhar pessoas. E aí que entra o texto de Tiago. Ele diz: “Humilhem-se diante do Senhor, e ele os colocará numa posição de honra. Meus irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala mal do seu irmão ou o julga está falando mal da lei e julgando-a.” 

O apóstolo nos incita a sentirmos nossas próprias misérias.  Falar mal dos outros é fácil, difícil é sentir as próprias misérias; difícil é reconhecer nossos próprios erros. 
Você já foi punido? Eu já! Já passei por período de castigo e dor, e sei que é difícil suportar a punição, mas há o texto que diz: “Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque que filho há a quem o pai não corrija?” (Hb 12:5-7) 

Quando nos revoltamos contra o castigo, nos sentimos superiores, ou aproveitamos para apontar erros alheios, é sinal de que não somos capazes de “sentir nossa miséria” e se não o somos, porque comemos a matsá? Porque celebramos Pessach? 

Pessach é a festa da libertação dos filhos de Israel da escravidão no Egito, mas é também a festa da humildade, quando comemos ervas amargas, pão da miséria, o charosset (que nos lembra os tijolos fabricados pelos escravos no Egito) e tudo isso pra que? Pra lembrarmos que fomos escravos, e que não podemos tratar as pessoas da forma como os israelitas eram tratados no antigo Egito. A Torah fala em Êx 23:9 para não oprimirmos ao estrangeiro, porque fomos estrangeiros no Egito... ou seja, não faça aos outros, aquilo que não quer que façam contigo (e você já sofreu isso, não faça os outros sofrerem).

Se hoje temos o delicioso pão francês ou caseiro sobre a mesa todos os dias, Pessach está aí para nos lembrar dos momentos difíceis, das lutas, e sim, claro, das vitórias que o Eterno nos concede. Mas lembremo-nos sempre da humildade. 
E por falar em humildade, durante seu último Pessach, nosso Mestre Yeshua, em seu último Pessach, lavou os pés dos seus discípulos, num claro ensino sobre a humildade. (o lava-pés fica para uma próxima meditação) 
Então gente, ao receber sua caixa de matsá ou ao produzir seu próprio pão da miséria, antes de comer, vamos nos lembrar e sentir nossas misérias, converter nossa alegria em pranto, e nos humilhar diante do Eterno... e chega de falar da vida alheia, porque isso não passa de orgulho pessoal e fermento demais, e é tempo de limparmos nossa casa (nossa vida) do fermento, antes que levede toda a massa.

***Ps.: Se você ainda não tem uma hagadah de Pessach, solicite a mim que eu envio o arquivo por e-mail ou facebook, para que você possa imprimir.

segunda-feira, março 23, 2015

Reflexões para o dia: Pessach, quem é livre?



Jo 8: 33 “Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?”

Estamos no Mês de Nisan, o primeiro do calendário judaico religioso e certamente dos mais importantes, pois esse mês marca o povo de Israel de uma forma singular, considerando que foi em Nisan que os israelitas foram libertos da escravidão do Egito, onde viveram por quatrocentos anos. Espero nos próximos dias meditar e compartilhar aqui alguns pensamentos acerca de Pessach.

A Torah nos relata em Shemot 12, acerca da primeira celebração de Pessach e da saída dos filhos de Israel do Egito. Nossos sábios e a própria Torah descrevem como devemos celebrar essa festa, sendo ela a única que é de verdade restrita, e só podem participar aqueles que são circuncidados. 

Nos últimos dias tenho refletido (ainda que não tenha publicado postagens) acerca de quem é livre de verdade. Você já conversou alguma vez com um “viciado”? Viciado não necessariamente em drogas ilícitas, mas também em bebidas alcoólicas e outras coisas. Eles sempre dirão algo como: “eu não preciso de religião, eu sou LIVRE pra fazer o que quiser...” será mesmo?

O texto de João 8 nos traz uma sequência interessante de fatos. Quero apresentar rapidamente alguma coisa.

1º  - Mulher adultera: Uns fariseus e escribas quiseram testar a Yeshua, e trouxeram uma mulher adúltera perante ele. A mulher havia sido pega em flagrante adultério... e porque aqueles homens não “fizeram justiça”? Trouxeram para Yeshua, só pra ver o que ele falaria. 
Tem pessoas que se acham demais, que se sentem no direito de fazer acusações, de pegar esse ou aquele e massacrar, e depois deixar que “o Rosh resolva”. Tais pessoas se acham justiceiros, os donos da razão, inimputáveis de pecado. Mas bastou Yeshua dizer a famosa frase: “aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra” que eles foram saindo... e então Ele deu a sentença à mulher: “vá e não peques mais”.
Sim, ela havia pecado, e sim, poderia ter sido apedrejada ali mesmo, mas onde estavam os acusadores? Eles mesmos eram escravos do pecado, e buscavam “provar Yeshua”, eles eram maus, apesar de se acharem bons. Aqueles homens expuseram a mulher, expuseram a Yeshua, mas no fim, quem teve sua vergonha exposta foram eles mesmos. 

2º - Vós julgais segundo a carne: não satisfeitos, os fariseus ali acusaram Yeshua de testemunhar falsamente dele mesmo. Yeshua falou que o juizo deles era segundo a carne, ou seja, eles eram homens carnais. O carnal se acha, ele não tem nada do espírito de D-us sobre ele. Por isso mesmo Yeshua disse: “vocês não conhecem a mim e nem a meu Pai” e concluiu, dizendo que eles morreriam em seus pecados. (Jo 8:24) 
Assim é o escravo do pecado, vive e morre no pecado, mas nunca reconhece que está errado. Vivem de acusações, de tentar destruir, prejudicar o ministério, e se acham “o povo de D-us”. E a discussão seguia com o Mestre.

Assim como o escravo do vício se acha livre, esses homens se achavam livres... e disseram: “Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” E segue: “Responderam e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas, agora, procurais matar-me a mim, homem que vos tem dito a verdade que de Deus tem ouvido; Abraão não fez isso.” (Jo 8:35,39,40)

E pra encurtar a história, Yeshua disse: “Vós tendes por pai ao diabo e quereis satisfazer os desejos de vosso pai.”

Daqui a menos de duas semanas teremos pessach, teremos o seder de Yeshua, o seder de homens livres. Iremos participar? Devemos participar? Depende! Se formos homens livres, se não vivemos fazendo acusações, apontando com o dedo em riste sobre esse ou aquele, ou nos julgando os donos da verdade, os justiceiros, aí podemos e devemos participar, pois somos filhos de Abraão. 
Agora, quem vive de acusar, quem vive escravo do pecado, se escondendo sob falsas imagens, aprensentando falsos perfis de pessoas de bem, esses não sei, talvez eles mesmos deviam se julgar e ouvir as palavras do Mestre: “quem estiver sem pecado atire a primeira pedra”.

Lembremo-nos que dos mais de seiscentos mil homens que saíram do Egito, apenas dois daquela geração foram capazes de chegar à Terra Prometida. Eles sim, foram livres e entenderam a verdadeira mensagem do Pessach.

É tempo de encontrarmos a liberdade nas coisas boas, não em trazer pessoas para serem apedrejadas; pessoas livres fazem o bem. É tempo de tirar o fermento, mas isso fica para uma próxima meditação.