sexta-feira, novembro 28, 2014

Reflexões para o dia: Trabalho e ciumeira



Nos últimos dias tenho aproveitado parte de meu tempo para ler “Um homem, um rabino” auto-biografia do rabino Henry Sobel. É um livro de 300 páginas que eu achei que leria em dois meses, mas em duas semanas já estava finalizando sua leitura, uma vez que achei o livro muito bom e recomendo a todos. 

Em vários dos capítulos, o rabino cita seus conflitos com outras pessoas, essencialmente dentro do âmbito em que desenvolvia seu trabalho. Quanto melhor ele se tornava, quanto mais destaque ele alcançava nos diversos setores, mais inimigos ele fazia. Aí alguém pode perguntar: “Mas tem isso dentro do judaísmo? Ciumeira, inveja e disputas de poder?” Claro! 

Cito aqui brevemente o relato de dois acontecimentos narrados por ele; primeiro, quando o presidente FHC (Fernando Henrique Cardoso) foi dar palestra num evento e tinha um jantar especial. Um dos diretores da CIP reclamou porque não fora escolhido para se assentar à mesa junto com o presidente. Pura ciumeira; inveja do destaque dado a outras pessoas. 
No outro, estavam programando uma vinda do presidente Shimon Perez (que havia recém ganho o prêmio Nobel) mas de novo o ciumes fez com que, enquanto uns trabalhavam para trazer Shimon Perez, outros trabalhavam para “aparecer” ao lado do homem. Tanto que, tal pessoa só aceitaria se ele fosse a primeira pessoa que Shimon Perez cumprimentasse ao descer do avião, em sua chegada no Brasil. 
Para resumir, foram tantas exigências, discussões, que a visita acabou sendo cancelada. 

Isso me faz lembrar de Shual HaShaliach, que disse:
“Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho.”(1 Co 3:6-8)

Devo dizer que esse capítulo todo é fantástico! E Paulo é bem claro ao afirmar: “porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens?” (verso 3) 

Pra não dizer que eu fico apenas citando textos da Brit Chadashah, Moshê, sempre ele, nos ensina na prática o desprendimento a sentimentos como a “auto-exaltação” e o “egoísmo”. Em Nm 11, ele fala de seu pesado fardo, e D-us o recomenda a dividir com outros setenta homens seu trabalho.   Eles profetizaram uma vez e pararam, mas dois outros, chamados Medade e Eldade continuaram a profetizar. E daí?
Daí que lá vem Josué, falar com Moshê para proibí-los de profetizar, mas nessa hora ele toma uma invertida do mestre. Moshe diz: “Tens tu ciumes por mim? Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhes desse o seu Espírito!”  (Nm 11:29)





Ontem, finalmente pude ver sendo colocada na nossa Kehilah de Ponta Grossa a nova bimah. Ela foi a conclusão da obra, um trabalho de muito bom gosto, feito pelo chaver Sharon.  Feito por ele, mas projetado por mim, sonhado por tantos outros, assim como toda a reforma que foi feita ali; desde o Aron HaKodesh, passando pelo revestimento interno, o vitral, e tantas outras coisas, que agora culminam com a bimah... sinto-me realizado. 

Claro, já não sou mais o rosh de Ponta Grossa, hoje a cargo do zaken Shemuel. Sabe que revelância isso tem? Nenhuma! Porque a kehilah não era minha, não é do Shemuel, e não será do próximo rosh, ela é de todos os membros da CINA, sejam de Ponta Grossa ou não. Pouco me importa quem vai desfrutar, quem vai usar a bimah para fazer suas prédicas, ou quem vai sair nas fotos futuras (como no caso de quem sairia na foto com o Shimon Perez). O que vale sempre é o bem da Congregação do Eterno.


Nada pode nos tirar a satisfação e o reconhecimento pessoal de que fomos úteis em alguma coisa, mas também não devemos trabalhar buscando o mero reconhecimento alheio.  Tenho a satisfação de que a cada foto que for publicada de Ponta Grossa, saberei que ali tem um pedacinho de mim, afinal, foram quase seis anos completos de dedicação total, de corpo e alma àquele lugar e àquelas pessoas. Quem sabe um dia eu possa visitar e ver a nova bimah, tão bem executada, obra de artista, mas sempre terei a ciência de que aquele é um lugar NOSSO e não MEU. Homens vão e vem, já pensou se vivêssemos em função de reconhecimento? 


Pra encerrar, tenho sempre em mente o texto do tratado talmúdico de pirke avot, que diz: “aquele que busca muita celebridade, perde a que já possui.” Então, trabalhemos, porque um planta, outro rega, mas quem dá o crescimento é o Eterno. 

*** Duas recomendações: 
- Compre e leia o livro: “Um homem, um rabino.”  Ele tem lições poderosas para todos nós.
- Visite a Kehilah de Ponta Grossa um dia, e veja esse belo trabalho feito pelos nossos chaverim. 

terça-feira, novembro 18, 2014

Reflexões para o dia. Mudar as pessoas ou a si mesmo?




“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. ” (Rm 12:2)

Ao longo de nossa trajetória vamos aperfeiçoando hábitos, e esses costumes nos direcionam em nossa vida. Por exemplo, se você gosta de filmes, sempre ao ligar a televisão vai procurar por canais de filmes... e aí vai procurar os filmes de sua preferência, seja romance, comédia, filmes antigos, etc... se gosta de livros, vai sempre querer ir à uma biblioteca ou bookstore e vai ler os livros que se identificam contigo e por aí vai... eu por exemplo tenho vários livros sobre comportamento humano, mas quase nada sobre profecias, ou biografias. 

Dias atrás estava de passagem por um supermercado e lá havia vários livros por preço único de R$ 10,00. Achei barato, e resolvi ver se tinha algo interessante, e encontrei uma biografia. O livro chama-se: “Um Homem; Um Rabino” do Sr. Henry Sobel.  Com trezentas páginas, me propus a lê-lo até o fim do ano. E no dia seguinte já havia lido cerca de oitenta páginas, e não dá vontade de parar de ler. 
Achei muito bem escrito e interessante (gosto é gosto, se você não gostar, depois não vai reclamar de mim hein!) e relata a vida desse homem de muita cultura, sabedoria e alguns deslizes também. Os ignorantes o conhecem apenas como o rabino que roubou uma gravata, outros lembrarão de sua luta contra a ditadura, de Wladimir Herzog, outros citarão que ele é ecumênico, etc... mas eu o vejo como um homem sábio, que sempre fez questão de se posicionar diante das situações da vida. Certo ou errado, isso depende do ponto de vista de cada um, mas ele não se omitia. (Acho que nesse aspecto eu me identifico com ele)

Num trecho do livro, li algo que me chamou muito a atenção, sobre a vocação do rabino e aquilo que ele cria, é dito:
“- No início eu tinha esperança de mudar os homens. Agora percebo que não posso. Mas, se permaneço aqui e continuo a ensinar a Torá, é para evitar que os homens mudem a mim mesmo... Ao final, Heschel (rabino, um dos mestres de Henry Sobel)  disparou: “Henry, tente mudar os homens. Este é o seu papel como rabino. Porém se não puder mudá-los, não deixe que a sua congregação o mude.”
Isso foi quando Henry Sobel decidiu se mudar dos Estados Unidos para São Paulo, em 1970. 

Como líderes, pregadores, sempre acreditei que devemos lutar por um mundo melhor, fazer a nossa parte. Perdoar e ser perdoado, não carregar rancor, batalhar pelas coisas certas, conhecer de questões políticas que envolvem toda a sociedade e não apenas os membros de minha sinagoga. Mas de vez em quando dá vontade de desistir, sucumbindo diante de ataques e falta de respeito, mas como diz o livro: “é meu dever tentar mudar as pessoas, mas se não conseguir, pelo menos que eu não permita que elas me mudem, que eu me molde às suas vontades.” 

Durante os últimos dias, meses, nas viagens, tenho visto muita gente sincera, que defende aquilo que é certo, mas que, por timidez ou medo, acabam não se expressando, em defesa dos princípios que acreditam. 
É dito que para que o mal triunfe basta que as pessoas de bem não façam nada. Isso vale para todas as situações da sociedade. Portanto, ainda que não consigamos mudar as pessoas, que sejamos capazes de defender nossos pontos de vista, e não permitir que elas nos mudem. 

Sim, o rabino Sobel cometeu deslizes (no plural) mas isso jamais apagará o brilho de suas lutas em defesa de uma sociedade mais justa, para judeus e não-judeus. 
Quem quiser achar que ele é um ladrão de gravatas, que ache... essa não é a visão que eu tenho dele. 

Da mesma forma, temos pessoas valorosas na congregação, e cada um faça seu próprio juízo a respeito dessa ou daquela pessoa. O que vale é o juízo que o Santo, Bendito seja Ele, faz a respeito de cada um de nós. 

Que D-us nos dê um coração limpo, que nos faça cientes de nossos erros e que nos dê a serenidade para reconhecer as falhas em nós mesmos e ainda assim, a cada erro, a cada “gravata roubada” possamos nos reerguer e seguir o caminho daquilo que achamos certos, porque no fim das contas, sempre haverá dedos que nos apontam os erros, mas também sempre haverá alguém de bem para nos apontar o caminho correto a seguir. 

Se não puder mudar as pessoas (para o bem) continue pregando, porque assim não mudarás a ti mesmo.

segunda-feira, novembro 10, 2014

Reflexões para o dia. Como eles crescem rápido!


“Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos! O SENHOR te abençoe desde Sião, para que vejas a prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida, vejas os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel!” (Sl 128:1,5,6)


Ontem foi um domingo diferente em Curitiba; era a celebração dos três anos do Michael, filho da nossa amiga Kelly (apresentadora do Eshet Chayil). Como acontece em muitas comunidades judaicas, tivemos a cerimônia do Opshernish, o primeiro corte de cabelo dele. Para quem não conhece, isso tem a ver com a tradição judaica e está relacionado com os versos de Dt 20:19 (que relaciona o homem como uma árvore) e Lv 19:23. É depois dos três anos que o menino dá seus primeiros passos no estudo da Torah. 
Para minha família é sempre um privilégio a companhia da Kelly, uma mãe sábia, de bom testemunho, e que conduz seus dois filhos com muita dignidade dentro da Kehilah. Rogamos ao Eterno que seus dois filhos Michael e o Israel sejam como Timóteo, que aprendeu a fé com sua mãe e avó (Lóide e Eunice)  e eles aprendem com você e a chaverah Eugênia também. 

Mas aí, durante a festinha, eu olhava as crianças, como elas crescem rápido e é inevitável que nos venha à mente o verso de provérbios 22:6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar...” Toda a energia das crianças que correm pra lá e prá cá em algum momento deve ser canalizada para o aprendizado da Torah. Ontem, para o Mi, foi apenas uma festa, seu primeiro corte de cabelo, cofrinho cheio de moedas, presentes, etc... mas daqui há alguns anos ele poderá estar lá na frente, sendo chamado à leitura da Torah, como um bom Bar Mistvah.

Mas crianças crescem, viram adolescentes, é bonito ver o desabrochar da juventude, chega a fase de se preocupar com a aparência, as conversas mudam, a voz muda, tudo muda... só não pode mudar o temor ao Eterno e o respeito aos pais. 
É lindo ver alguns amigos envelhecendo junto conosco, olharmos fotos antigas de quando éramos mais jovens, magros, sem cabelos brancos e nossos filhos recém engatinhavam e eu sou grato ao Eterno por isso. 

Nessas horas sempre me lembro de meu casamenteiro (aliás, o primeiro da CINA) Shelumiel e sua esposa Lídia. Lá atrás, enquanto eles nos orientavam, há 19 anos, eu e a Eliana brincávamos com o bebezinho deles, a Ana Carolina, e essa bebezinha, daqui menos de quatro semanas estará se casando. 
Gosto de brincar com os pais, de “ver o sofrimento deles” quando a filha vai embora, mas de certa forma me orgulho por eles, por ser amigos de pessoas do bem, que educaram muito bem uma menina, de bom testemunho e que agora dará início  a mais um lar judaico. Ela, com carinha de menina já terá seu castiçal para as velas de shabat, já irá preparar as chalot e um dia, permitindo o Eterno (e que seja pra breve) ela estará dando a alegria de gerar netos aos pais Shelumiel e Lidia. 

De vez em quando eu brinco (mas falando sério) com o Giácomo; “olha, você tá casando com a Carol, trata bem ela hein, não vai tirar ela da casa do Shelu e fazer a menina sofrer” e ele olha pra mim e sorri dizendo que vai tratar bem a ela. 

E a vida é assim amigos, criamos nossos filhos para ganharem o mundo, construírem suas próprias histórias. 
Dias atrás meu primogênito tocava violino com uma menininha, hoje ele cresceu e toca piano e a mesma menininha  também cresceu e já começam a surgir os marmanjos em torno do pobre Jair (o pai). É bom ver o Abel crescer, o Gustavo, de Vacaria, o Zé Roberto, o Gabriel, a Emily, a Helen e tantos outros que crescem dentro da Kehilah; e oro para que nunca se desviem do bom caminho. 

Sábios são os pais que criam seus filhos dentro da Kehilah, no temor do Eterno, e veem suas crianças crescendo, cantando, lendo Torah, e tem o privilégio de ver a filha entrar sob o pálio nupcial vestida de branco, o branco da pureza, da honra e da beleza da mulher que teme ao Eterno. 
Sobre o Giácomo não tenho nada pra falar, porque num casamento, quem se lembra de olhar pro noivo? hehe!

Orgulho-me de ter aprendido muitas coisas com o zaken Shelumiel, e espero (mas não ansiosamente) que quando chegar a hora, ele também possa me ensinar novas lições nessa hora de alegria do casamento de uma filha, porque eu sei que é bem-aventurado o homem que teme ao Eterno e anda nos seus caminhos; esse homem será merecedor de ver os filhos de seus filhos e a paz sobre Israel. 

Que o Michael e outros bebês possam crescer, ter seu primeiro corte de cabelo aos três, aprender sobre a Torah, aos treze fazerem seu bar mitsvah, serem chamados para a leitura, continuarem a crescer, encontrarem uma linda e temente ao Eterno jovem, que se casem e construam famílias decentes e exemplares. 

Em tempo, ano que vem meus pais que já viram os filhos dos filhos, terão a honra, de verem os filhos dos filhos dos filhos,  seu primeiro bisneto (Noach, aquele que traz descanso) e que sejam merecedores de ver a paz sobre Israel também!