sexta-feira, outubro 16, 2015

Reflexão para o dia: Od Yavo Shalom Aleinu, amigos pela paz...



Sl 122:6-9 Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam.  Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios. Por amor dos meus irmãos e amigos, eu peço: haja paz em ti!  Por amor da Casa do SENHOR, nosso Deus, buscarei o teu bem.

Diz o talmude em Pirkei Avot: “sejam como os discipulos de Arão; orai pela paz, procurai pela paz” 

Durante mais essa peregrinação, assim como em todas as outras, o Eterno nos propicia momentos especiais e únicos. Felizes coincidências que nos conduzem a momentos raros de espiritualidade em que é como se Ele próprio nos estivesse falando ao ouvido e ao coração.

Ontem vivi um desses momentos. A certa hora do dia, tive que largar o grupo aos cuidados do guia e eu retornaria ao hotel para um compromisso. Ao chegar no quarto, o camareiro arrumava a cama e, com certo receio, ele pediu desculpas e ía saindo, quando eu  insisti que ele ficasse e não se importasse com minha presença. 

Tentei puxar conversa (normalmente os turistas não vêem os camareiros, que são ignorados na maioria das vezes) e ele ainda arredio, foi se abrindo. 

Era um árabe, chamado Ahmed, e trabalhava no hotel desde 1987, sendo já um senhor de mais de cinquenta anos. Mais da metade da vida dele passou trabalhando ali e por cerca de dez anos cumpria expediente em dois trabalhos para sustentar a familia. A conversa seguiu tranquilamente até que eu pedi que ele me desse sua opiniao a respeito do atual conflito vivido em Jerusalém. Eu queria saber apenas a opinião e entender o ponto de vista de um árabe de Jerusalém, mas ao fim da conversa, os olhos estavam marejantes, se é que me entendem.

Ele, de novo arredio, me dizia: “eu não gostaria de falar sobre esse assunto, é algo dificil” mas fui insistente e segui o papo até que ele se sentiu mais a vontade e começou a falar, dizendo: “minha vida está dificil nos últimos dias, situação complicada. Minha família está sofrendo... normalmente eu gasto meia hora entre a minha casa e o trabalho, mas agora tenho levado mais de duas horas, porque todo caminho está trancado pela polícia, e então eu tenho que contornar a cidade até achar um lugar por onde eu possa entrar no meu bairro. 

Falei: “o senhor sabe que eu sou judeu né?” e ele disse: “sim, eu vi a tua kipah” e eu falei que é complexo, pois Israel precisa se proteger, defender suas famílias e suas crianças. E ele entendeu, mas continuamos... e ele dizia: “essa é uma situação em que todos perdem, todos sofrem”

A conversa segue e ele fala dos filhos, que saem pra trabalhar e estudar, chegam entre uma e duas da madrugada muitas vezes, e nesses dias, ele, como pai, não dorme enquanto crianças não voltam pra casa. Você consegue imaginar a ansiedade e o estresse a que esse senhor é submetido diariamente nas últimas semanas? São horas de angústia sem fim. 

O cidadão, que trabalha há praticamente trinta anos no mesmo hotel já provou ser um homem de bem, mas tem que chegar cedo no trabalho e gasta duas horas, num percurso de trinta minutos. Passa por constantes revistas policiais (Não digo que o exército de Israel está errado, afinal, temos que defender os judeus de nossa terra) e ao iniciar o expediente já está tenso. 
Depois, ao longo do dia, ele liga a cada duas horas pra casa, pra saber se todos estão bem. Tem um amigo taxista a quem ele recorre para buscar os filhos na escola, filhos que já não mais querem estudar, porque não conseguem se concentrar e aprender. 
Fim do expediente, mais duas horas com revista policial, ruas bloqueadas, sirenes de ambulâncias constantemente nas vias públicas até que chega tarde em casa, e depois a agonia de esperar os filhos voltarem para casa. No dia seguinte, tudo se repete... 

Por outro lado, temos os judeus, que enquanto caminham para suas preces no kotel, ou vão ao trabalho, subitamente veem um carro propositadamente subir na calçada, no ponto de ônibus, no semáforo, em qualquer lugar e atropelar seus irmãos e amigos. Depois de atropelados, ainda tem o fato do motorista sair e esfaquear e assassinar tantas pessoas quanto possivel, pelo simples fato de serem judeus, até que esse terrorista seja morto rapidamente por algum militar israelense. 
A morte dos inocentes causa espanto e tristeza entre judeus, mas a morte do terrorista é celebrada como um mártir, um herói, entre palestinos, ao mesmo tempo em que novos jovens se revoltam contra Israel e o ciclo se repete indefinidamente. 

A situação é tristemente complexa. Inocentes sofrem e morrem a cada dia. A tensão aumenta, o lugar vira um barril de pólvora. Eu vejo um policial a cada cinquenta metros, com sua metralhadora sempre engatilhada. No alto das casas da cidade velha vemos sempre um atirador de elite claramente a espera de onde será o próximo ataque. 
Num dia, passeando de carro com um amigo aqui, vimos o que acabara de ser um ataque, que culminou com a morte de um jovem terrorista de apenas dezenove anos. Impotentes, lamentamos, mas fomos igualmente tomados pela tensão do momento, próximos à Porta de Damasco, o local mais perigoso hoje aqui.

Ao mesmo tempo, retomamos o tour com o grupo, que aparentemente de forma tranquila, segue seu roteiro. A música escolhida pelo grupo e cantada diversas vezes diz: “Od yavo shalom aleinu, od yavo shalom aleinu veal culam. Sallam, aleinu veal col haolam.” Que a paz venha sobre nós e sobre todos!
Eu e meu amigo, maestro Joab Muniz sonhamos com um projeto, e acreditamos num mundo melhor. Trabalhamos, criamos sonhos e esperamos realizar, se for pela vontade e misericórdia do Eterno Deus de Israel. 

Por ora, só nos resta rezar pela paz e pela prosperidade da cidade que amamos.Que haja paz e prosperidade nos palácios dessa cidade maravilhosa, e que nunca nos esqueçamos que aqui é a Casa de Deus e devemos buscar o bem de Jerusalém sempre. 

Seja onde for que você estiver, faça verdadeiro dentro de si estas coisas, orar e amar a Jerusalém. Saiba que aqui existem pessoas de bem, judeus, árabes também, e gente de todos os lugares, porque está escrito: “Minha Casa será chamada casa de oração para todos os povos.” 

Mas saiba que, independente de período, seja frio ou calor, tempos de paz ou guerra, Jerusalém é e sempre será um lugar inesquecivel. Que seja sempre “ir shalem” (Cidade de paz) e a cada dia faz  mais sentido para mim a frase: “Se eu me esquecer de ti, óh Jerusalém!”  Lugar onde meu coração pulsa em sincronia com o coração do Eterno, lugar onde nossa alma encontra repouso e paz, independente das aflições que possam sobrevir a nós a cada dia! 
Ore pela paz de Jerusalém. Sejam prósperos aqueles que te amam, sempre!

Shabat shalom!