Jó 1:12 “Disse o SENHOR a
Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não
estendas a mão. E Satanás saiu da presença do SENHOR.”
De vez em quando Curitiba
amanhece com cara de chuva e aí venho trabalhar de carro; quando isso ocorre,
aproveito o percurso e venho escutando shiurim (palestras) de um rabino
conhecido. Hoje foi um desses dias.
Durante a palestra ele falava
sobre as individualidades, das diferenças entre liturgias das mais diversas
sinagogas e linhas do judaísmo e da necessidade de respeitar essas diferenças.
E isso faz bem para nós.
Em certo ponto, ele passa a
falar sobre a vida. Em hebraico, vida é CHAIM, uma palavra no plural. Isso
porque não é bom, não é saudável a pessoa viver de forma isolada.
O Eterno permite que Seu
servo Yov pudesse ser testado. Podia ser tocado em tudo, exceto na vida dele.
Mas há uma coisa curiosa nisso. Se o anjo (satanás) podia tirar tudo, porque
não tirou os amigos de Yov?
Ele perdeu seus bens, seus
rebanhos, filhos, enfim, praticamente tudo, exceto os amigos, porque? Porque
quando tiram nossos amigos, tiram também nossa vida.
Jó 2:11-13 diz: “Ouvindo,
pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera, chegaram, cada um do
seu lugar: Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita; e
combinaram ir juntamente condoer-se dele e consolá-lo. Levantando eles de longe
os olhos e não o reconhecendo, ergueram a voz e choraram; e cada um, rasgando o
seu manto, lançava pó ao ar sobre a cabeça. Sentaram-se com ele na terra, sete
dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era
muito grande.”
Elifaz, Bildade e Zofar, os
amigos de Jó, ao ficarem sabendo de todo o sofrimento pelo qual o companheiro
passava, foram visitá-lo, porque se condoíam, isto é, sentiam dor juntos, a
mesma dor de Jó, tinham compaixão por ele. Quando somos amigos de verdade,
precisamos sentir a dor de nosso companheiro, estar ao lado dele.
Ao perceberem, ainda que de
longe, a situação de Jó, os amigos choraram, rasgavam suas vestes, se lançavam
ao pó. Isso mostra que imediatamente eles sentiram suas dores, e ao se
aproximarem de Jó, ele pôde perceber que eles estavam “na mesma situação dele.”
Mas o que dizer numa hora
dessas? Você já esteve diante de uma pessoa que seu parente acabara de morrer,
e está para ser sepultado? Difícil achar palavras não é? Mas quem disse que
elas são necessárias? Basta seguirmos o exemplo dos amigos de Jó.
“Sentaram-se com ele na
terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam
que a dor era muito grande.” Amigos precisam apenas sentir que o seu
companheiro está ali, bem do seu lado, para compartilhar de seu momento de dor
e tristeza.
E quando foi que o Eterno fez
sair de sobre Jó todo o mal que sobreviera a ele? Simples! Quando ele deixou de
olhar pra si mesmo e suas próprias misérias e voltou seus olhos para os amigos.
Jó 42:10 Mudou o SENHOR a sorte de Jó, quando este orava
pelos seus amigos; e o SENHOR deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra.
Mas por quê isso? Porque
precisamos todos entender que não somos os únicos a ter problemas, não somos os
únicos a sofrer; e embora desejemos e necessitemos muito, muito, muito mesmo de
uma mão amiga estendida em nossa direção, talvez outras pessoas também
necessitem que sejamos esse amigo de mãos estendida a elas.
Enquanto Jó chorava, os
amigos o consolaram, ficaram ao lado dele por uma semana, mas sim, eles tinham
que voltar a viver, tinham que seguir sua vida. Isso não significa que eles
abandonaram Jó, mas que ficaram com ele, o suportando, durante o tempo que lhes
foi possível. Quando Jó percebeu que
eles também tinham seus problemas e ele tirou os olhos de seu próprio
umbigo e rezou por eles, tudo mudou.
É dito: “Alegrai-vos com os
que se alegram e chorai com os que choram.”(Rm 12:15) porque quando somos
amigos, entendemos quando é tempo de chorar junto, e quando é tempo de se
alegrar junto.
Talvez enquanto choramos,
desejemos que outros chorem conosco; mas por outro lado, talvez seja hora de
nos alegrarmos com os que estão alegres também. Afinal, amigos são para todos
os momentos, quer sejam ruins, quer sejam bons.
Que nos nossos maus momentos encontremos sempre aqueles que estão
dispostos a nos abraçar e ficar em silêncio, compartilhando a dor; por outro
lado, que HaShem permita que venham bons momentos para compartilharmos juntos.
Porque amizade é vida!
*** Ps.: O rabino que costumo ouvir suas palestras em mp3 chama-se Karaguilla, a quem apesar de não conhecer pessoalmente, agradeço imensamente por suas palestras com palavras que me encorajam a cada dia.