Infelizmente a
vida não é feita apenas de boas noticias. Ontem falei sobre o casamento, uma
festa singular que marca o reinício do ciclo da vida, quando duas pessoas
jovens, cheias de vida se unem na esparança de renovar o mundo através de mais
um casal. No fim do dia, meu celular toca com uma mensagem informando do
falecimento de uma pessoa. Não importa quem seja, sempre é triste uma noticia
assim (eu pelo menos nunca me alegrei com a morte de ninguém, nem de pessoas
que se fizeram meus inimigos).
Aí eu me pus a
pensar, sabendo que o meu shabat já não teria um clima dos mais felizes. O que
define a vida de uma pessoa? Como podemos fazer um juízo de valor sobre a vida
de alguém. A verdade é que ninguém sabe o que vai no coração de uma pessoa;
julgamos por atitudes, fulano é mau caráter, o outro é bonzinho, mas quais as
circunstâncias que levam alguém a ser considerado uma má pessoa e outro um
bonzinho.
Essa semana
estava vendo uma matéria sobre atores famosos e no Brasil tem o “Tony Ramos”
que, ele mesmo disse, já pediu pra fazer papel de mau, de psicopata, etc... mas
não adianta, ele sempre será o mocinho nas novelas. Porque?
A verdade é que
o Eterno não nos dotou com a plena capacidade de ver a intenção ou o coração
dos demais. Mas numa hora como essa da morte, todos nos igualamos ao pó. Alguns
sentirão nossa falta, outros celebrarão, mas no fim, a vida se desfaz, junto ao
pó e o silêncio de um cemitério.
É interessante
notar que na cerimônia fúnebre, praticamente todo mundo vira bonzinho. Até
bandidos, sempre haverá alguém que chorará e dirá: “Morreu tão jovem, era uma
boa pessoa.” Então, porque não reconhecemos essas virtudes em vida? A gente
chora porque na maioria das vezes não tivemos a oportunidade de dizer a tal
pessoa o quanto ela tinha de bom, reconhecer suas virtudes.
O poema de
Provérbios 31, conhecido “Eshet Chayil” ou “Mulher virtuosa” exalta as virtudes
de uma boa mulher, mas convenhamos, qual mulher é realmente tudo aquilo? Ou
qual pessoa é capaz de reconhecer tudo isso numa outra? Reconhecer virtudes
alheias é dificil porque na maioria das vezes, ao exaltar alguém, o ser humano
sente que está diminuindo seu próprio valor diante dessa pessoa. E não é nada
isso.
Diante da morte
já não há mais remédios, não há mais possibilidade de se desculpar, de
reconhecer os próprios erros, de valorizar, enfim, de ser mais “divino” e menos
“humano”.
Nos últimos
cinco anos e meio estive à frente da Kehilah de Ponta Grossa, e troca-se o rosh,
mas não se apaga uma história. Hoje, entristeço-me pelo falecimento da chaverah
Maria da Luz.
Não sinto-me
digno de exaltar-lhe seus bons atos, nem tampouco de criticar seus erros, acho
que ainda não sou capaz de oficiar um funeral. O que dizer? Quem pode dizer que
se sente alimentado quando carrega no coração mágoas do próximo? O que dizer
numa hora dessas? Seja o que for que se diga num momento desses seremos sempre
donos de lábios injustos.
Shaul HaShaliach
disse, falando aos irmãos que viviam em Roma:
“Quem intentará
acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.” (Rm 8:33)
Ninguém é tão
ruim que não possua virtudes, nem tão perfeito que não tenha defeitos.
Infelizes aqueles que só conseguem ver defeitos no alheio, e ainda assim: “Quem
intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.”
Precisamos
sempre aprender que, as atitudes do ser humano são tomadas em um momento único;
eventualmente a pessoa age errado porque estava num dia ruim, talvez a vida não
a tenha preparado para vivenciar determinadas situações ou qualquer outra coisa
que nunca saberemos.
É muito fácil
julgar alguém como burro, ignorante ou pouco inteligente quando D-us nos
permitiu a oportunidade de termos pais que investiram em nossos estudos, numa
formação universitária, ou tivemos a sorte de conseguirmos bons empregos...
enquanto aquela pessoa não teve as mesmas oportunidades.
Só poderiamos
ser capazes de emitir tais juizos, diante de pessoas que tiveram exatamente as
mesmas condições. Ainda assim, ninguém, absolutamente ninguém, é igualzinho a
outra pessoa. Então, melhor guardarmos nossos conceitos sobre o “próximo” para
nós mesmos.
Por outro lado,
não devemos nos preocupar com o mau julgamento que alguém faz de nós. Porquê?
Porque o que aquela pessoa conhece de nós? Quem sabe os dias difíceis que
vivenciamos, as más experiências?
Num momento
dificil como esse, meu desejo é sempre que o Eterno conforte aos familiares,
que eles tenham sempre boas lembranças de seus entes queridos e que todos
tenhamos em mente que é Deus quem justifica as pessoas; espero que, algum dia,
na vinda do Mashiach, quando ocorrer a primeira ressurreição, eu possa me
levantar, e reencontrar todas as pessoas por Ele justificadas. E aí vermos, uma
vez, o quanto fomos injustos nessa frágil vida que hoje temos.
Diante da morte, somos todos fúteis. Que a morte de mais
essa chaverah tenha sido tida como preciosa aos olhos do Eterno e que ela possa
ressuscitar junto aos santos naquele dia.
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