quarta-feira, setembro 03, 2014

Reflexões para o dia. Tatoo e Elul


“...nem fareis marca nenhuma sobre vós. Eu sou o SENHOR.” (Lv 19:28)

Durante o mês de Elul somos instados a orar mais, a buscar ao Eterno e nos arrependermos de nossos pecados, pedindo perdão. Mas eventualmente nossos erros não podem ser apagados, eles são como uma marca em nós, seja ela exteriormente ou interiormente. 
Há algumas semanas, conversava com um amigo que está passando pelo processo de conversão, e ele tinha algumas tatuagens aparentes e acabamos falando a respeito. 
Em primeiro lugar, não tem como negar que a tatuagem chama a atenção; quando conversamos com alguém tatuado, inevitavelmente nossos olhos são atraídos para aquele desenho no corpo da pessoa; eventualmente, isso pode até causar certo constrangimento, e até mesmo perguntas indiscretas com o objetivo de atingir àquela pessoa.
Em princípio, depois da conversa com esse meu amigo de Campinas, me deu vontade de colocar uma meditação a respeito, mas acabei deixando de lado, até que no último domingo, quando estive no Rio de Janeiro, de novo, conversava com um pastor e ele me dizia que tinha os braços tatuados, e aí me perguntou coisas a respeito disso. Então agora talvez seja realmente tempo de falar do assunto.
Meu amigo me disse que alguém lhe perguntara: “judeu pode ter tatuagem?” E ele respondeu: “não, não pode ter tatuagem, mas pode ter um passado!” Amei a resposta!

O texto da Torah é claro ao dizer que não podemos fazer marca (tatuagem e marcar o corpo) e os tatuados, mesmo num cemitério judaico, são sepultados nas margens, junto aos muros. E aí eu me questiono: “O que fazer com os convertidos à fé judaica?” Continuaremos a olhar para eles com aquele “olhar mortal” de acusação? 

Esse pastor do Rio de Janeiro me perguntou o que eu achava de um judeu colocar tefilin, tendo o braço todo tatuado. Se isso era certo, ou errado. Eu dei a mesma resposta de meu amigo de Campinas: “olha pastor, uma pessoa não tem culpa se ela descobriu sua ancestralidade judaica tardia, e todos temos um passado. Um judeu não pode ter tatuagens, mas pode ter um passado.” 

Muitas vezes somos tentados a julgar as pessoas e isso é um erro. Está escrito: “não julgueis para que não sejais julgados” e eu já lidei com várias pessoas em nossa comunidade que foram tatuados. Entendo que a tatuagem é uma marca externa no corpo de alguém que decidiu levar para sempre a lembrança de algo em sua vida; marcar para sempre em si mesmo a memória de fatos, pessoas ou algo importante em sua vida. Na maioria das vezes não são meros desenhos. Em algum momento, elas podem se arrepender da tatuagem, mas aí já é tarde demais. Algumas tatuagens podem ser cobertas com um traje de mangas compridas, saias longas, etc... mas outras ficam em lugares sempre visíveis. 

Elul é tempo de arrependimento, e pessoas tatuadas também podem se arrepender. E um arrependimento sincero é o que basta nessa vida. Não devemos “provar” aos outros que estamos arrependidos, devemos pelo contrário, ter dentro de nós, a certeza de que não faríamos aquilo de novo. Se alguém te perguntar, você não precisa esconder a tatuagem, mas dizer: fiz, me arrependi... Se você quer um conselho, não faça como eu, não faça tatuagem. Se eu conhecesse a Torah antes, não teria feito. 

Agora se você está do outro lado, e vive julgando aqueles que cometeram o erro de se tatuarem, reflita bem. Alguns erros ficam expostos, e podem ser cobertos com uma consciência limpa e uma camisa comprida, já outros, não podem ser cobertos com um traje. O erro da maledicência, o erro da acusação, o erro de se achar melhor do que o outro só porque você não é tatuado. Algumas tatuagens são interiores e possuem um desenho muito mais feio do que uma marca exterior na pele. 

De novo digo, é tempo de arrependimento, de buscar o perdão; se você julgou alguém apenas por suas marcas exteriores, é tempo de procurar a pessoa e se desculpar. Todos pecamos, e somos marcados pelo pecado. Ninguém é melhor do que outro só porque não tem tatuagem. A tatuagem não determina o mau caráter. 

Se você foi sábio até aqui e não se deixou marcar exteriormente, não se deixe marcar interiormente pela corrupção do pecado. Que todos possamos desejar uma pele limpa, mas mais do que isso, um coração limpo. E que sejamos dignos de termos nosso nome selado e inscrito no bom livro da vida. Que tenhamos bons dias de reflexão, e que o toque do shofar em Rosh HaShanah nos desperte para dias mais alegres e de corpo e consciência limpas.

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