quinta-feira, junho 05, 2014

Reflexões para o dia. Sinagogar




Lc 4:16 “Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.” 

Desde tempos remotos para todo judeu, shabat é dia de frequentar a sinagoga. Não consigo entender alguém que se diz israelita não frequentar a sinagoga (exceto os isolados, que não tem sinagoga por perto). Você pode não gostar do rabino, das explanações de parashah, dessa ou daquela pessoa, mas isso não tira de você a obrigação de cumprir a mitsva da “santa convocação semanal”

Todo dia, quando rezo pela manhã, há uma das preces do shacharit que diz algo que aprendi a valorizar, e diz: "Que felizes somos; quão boa é a nossa parte e quão agradável é o que nos coube em sorte! Quão bela é a nossa herança; bem-aventurados somos nós que, tanto pela manhã cedo, como à tarde, frequentamos as sinagogas e as casas de estudo, proclamando a unidade do Teu Nome, repetindo diariamente, duas vezes, com fervoroso amor: "Shemah Yisrael, Adonai Elohenu, Adonai Echad..." (Sidur, pagina 31)

Como tenho falado nos ultimos dias recordando a nossa recente viagem a Israel, na sexta-feira tudo fecha mais cedo em Jerusalém e duas, três da tarde já a cidade fica deserta em seus bairros judaicos, e todos se preparam para receber o shabat.  Como estávamos num hotel “ortodoxo” no fim da tarde, ao regressar para o quarto, no lobby e na saída do elevador havia muitos kits, com caixas de fósforos e um par de velas para quem quisesse acender as luzes do shabat no quarto. (Imagino agora, que os hóspedes que não eram judeus não deviam entender nada daquilo).

Depois de acendermos as velas do shabat, era hora de rumarmos para a Grande Sinagoga de Jerusalém. Durante o trajeto, ruas vazias, já não havia trem, ônibus e barulhos, só a quietude anunciando que era chegado o shabat. 

Ao chegarmos, logo pegamos os sidurim e nos assentamos. Aí lembre-me da primeira vez que lá estive há vários anos atrás. Estava tão deslumbrado que mal prestava atenção à liturgia, e também, não conseguia acompanhar no sidur em que página estava. (Obviamente, sidur lá, só no hebraico) 
Hoje, ao chegar, já sinto-me parte do serviço, posso chegar atrasado ou adiantado, já consigo acompanhar o serviço tranquilamente, e rezar junto.
Aí me lembro que essa é uma reclamação de muita gente, que não consegue acompanhar a liturgia... e eu fico me questionando: será que essa pessoa quer mesmo acompanhar? Será que ela está se esforçando? Em nossos serviços é muito fácil acompanhar, uma vez que o chazan informa sempre qual página está e qual reza, e ainda tem a transliteração do texto e a tradução, o que facilita muito, mas, voltando ao assunto...

Shabat, cabalat shabat na Grande Sinagoga de Jerusalém, só vai fazer sentido se você reza o cabalat, o shacharit, na sua sinagoga aqui no Brasil. A devoção no serviço lá, só se mostrará verdadeira se você se deixa levar pela devoção no shabat aqui. 
Sim, lá provavelmente é mais bonito. Não apenas porque o chazan é mais afinado, tem um coral cantando junto, a sinagoga é espaçosa, confortável... mas porque lá é Jerusalém né gente, e tudo contribui para a santidade desse dia sagrado. 

Esse ano foi interessante, porque quando o serviço acabou, fomos ficando por lá, ficando, ficando e quando vimos, as luzes já estavam se apagando e a porta principal fora fechada. Tivemos que sair pela porta lateral e fomos dos últimos a deixar a Sinagoga. 

No shabat seguinte, fizemos nosso breve shacharit nas ruínas da sinagoga de Cafarnaum, às margens do Mar da Galileia,  e foi-me inevitável refletir acerca de Yeshua, nosso rabino, mestre que há dois mil anos, naquela região, também costumava rezar no shabat nas sinagogas que ali havia. 
Ora, se somos hoje seus discípulos e somos recomendados a imitá-lo, então é nosso dever, a cada shabat, procurarmos estar na sinagoga, rezando, estudando a Torah e nos saciando do espírito do shabat. 

Não importa pessoas, não importa se gosto ou não de tal chazan, se o líder é meu amigo, enfim, shabat é shabat, seja aqui ou em Jerusalém. E atender à santa convocação é cumprir uma mitsvah, portanto, sem arrumar desculpas, deixe-se contagiar pelo espírito do shabat. Acenda suas velas ao fim da sexta-feira e que essa luz de ilumine.

*** A propósito, a Grande Sinagoga de Jerusalém foi fundada em 1982, no dia 15 de Av, e tem capacidade para acomodar 850 homens no pavimento inferior e mais 550 mulheres no pavimento superior a cada serviço. Seu chazan, Chaim Adler é um grande cantor lírico e um dos mais famosos chazanim do mundo. 

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