“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. ” (Rm 12:2)
Ao longo de nossa trajetória vamos aperfeiçoando hábitos, e esses costumes nos direcionam em nossa vida. Por exemplo, se você gosta de filmes, sempre ao ligar a televisão vai procurar por canais de filmes... e aí vai procurar os filmes de sua preferência, seja romance, comédia, filmes antigos, etc... se gosta de livros, vai sempre querer ir à uma biblioteca ou bookstore e vai ler os livros que se identificam contigo e por aí vai... eu por exemplo tenho vários livros sobre comportamento humano, mas quase nada sobre profecias, ou biografias.
Dias atrás estava de passagem por um supermercado e lá havia vários livros por preço único de R$ 10,00. Achei barato, e resolvi ver se tinha algo interessante, e encontrei uma biografia. O livro chama-se: “Um Homem; Um Rabino” do Sr. Henry Sobel. Com trezentas páginas, me propus a lê-lo até o fim do ano. E no dia seguinte já havia lido cerca de oitenta páginas, e não dá vontade de parar de ler.
Achei muito bem escrito e interessante (gosto é gosto, se você não gostar, depois não vai reclamar de mim hein!) e relata a vida desse homem de muita cultura, sabedoria e alguns deslizes também. Os ignorantes o conhecem apenas como o rabino que roubou uma gravata, outros lembrarão de sua luta contra a ditadura, de Wladimir Herzog, outros citarão que ele é ecumênico, etc... mas eu o vejo como um homem sábio, que sempre fez questão de se posicionar diante das situações da vida. Certo ou errado, isso depende do ponto de vista de cada um, mas ele não se omitia. (Acho que nesse aspecto eu me identifico com ele)
Num trecho do livro, li algo que me chamou muito a atenção, sobre a vocação do rabino e aquilo que ele cria, é dito:
“- No início eu tinha esperança de mudar os homens. Agora percebo que não posso. Mas, se permaneço aqui e continuo a ensinar a Torá, é para evitar que os homens mudem a mim mesmo... Ao final, Heschel (rabino, um dos mestres de Henry Sobel) disparou: “Henry, tente mudar os homens. Este é o seu papel como rabino. Porém se não puder mudá-los, não deixe que a sua congregação o mude.”
Isso foi quando Henry Sobel decidiu se mudar dos Estados Unidos para São Paulo, em 1970.
Como líderes, pregadores, sempre acreditei que devemos lutar por um mundo melhor, fazer a nossa parte. Perdoar e ser perdoado, não carregar rancor, batalhar pelas coisas certas, conhecer de questões políticas que envolvem toda a sociedade e não apenas os membros de minha sinagoga. Mas de vez em quando dá vontade de desistir, sucumbindo diante de ataques e falta de respeito, mas como diz o livro: “é meu dever tentar mudar as pessoas, mas se não conseguir, pelo menos que eu não permita que elas me mudem, que eu me molde às suas vontades.”
Durante os últimos dias, meses, nas viagens, tenho visto muita gente sincera, que defende aquilo que é certo, mas que, por timidez ou medo, acabam não se expressando, em defesa dos princípios que acreditam.
É dito que para que o mal triunfe basta que as pessoas de bem não façam nada. Isso vale para todas as situações da sociedade. Portanto, ainda que não consigamos mudar as pessoas, que sejamos capazes de defender nossos pontos de vista, e não permitir que elas nos mudem.
Sim, o rabino Sobel cometeu deslizes (no plural) mas isso jamais apagará o brilho de suas lutas em defesa de uma sociedade mais justa, para judeus e não-judeus.
Quem quiser achar que ele é um ladrão de gravatas, que ache... essa não é a visão que eu tenho dele.
Da mesma forma, temos pessoas valorosas na congregação, e cada um faça seu próprio juízo a respeito dessa ou daquela pessoa. O que vale é o juízo que o Santo, Bendito seja Ele, faz a respeito de cada um de nós.
Que D-us nos dê um coração limpo, que nos faça cientes de nossos erros e que nos dê a serenidade para reconhecer as falhas em nós mesmos e ainda assim, a cada erro, a cada “gravata roubada” possamos nos reerguer e seguir o caminho daquilo que achamos certos, porque no fim das contas, sempre haverá dedos que nos apontam os erros, mas também sempre haverá alguém de bem para nos apontar o caminho correto a seguir.
Se não puder mudar as pessoas (para o bem) continue pregando, porque assim não mudarás a ti mesmo.
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