segunda-feira, agosto 12, 2013

Elul, Selichot, Tachanun e Teshuvah


Sempre fui muito a favor de respeitar o tempo necessário nas mais diversas situações, por exemplo, no processo de conversão, nunca apressei ninguém a que passasse pela tevilah, nem tampouco a tomar decisões precipitadas para depois me culpar, ou culpar a outros por estarem se apressando. Sempre apreciei as palavras de Eclesiastes, que dizem: Há tempo para todas as coisas, tempo para todo propósito debaixo dos céus (Ec 3)

Na Teshuvah não é diferente. Aprendemos devagar e sem atropelos, pois acredito que isso vai firmando nossos passos, e quem acelera demais nesses passos acaba perdendo lições importantes e que lá no futuro irão fazer falta.

Estamos no mês de Elul, mês de reflexão, de arrependimento, de teshuvah, de toque de shofar diário, etc...e no último shabat falei brevemente sobre as rezas, sobre as selichot, o tachanun, vidui, que são orações que tomam significado grande durante esses dias, onde confessamos nossos pecados e buscamos uma comunhão maior com o Eterno.

Não posso exigir que todos saibam e rezem "como perfeitos judeus" mas posso dizer: "abra seu sidur na página 78 e 79 e medite nessas preces" Em Elul é costume que diariamente as recitemos e mencionemos os Treze Atributos Divinos. Então, depois tocamos o shofar.
Aí alguém pode dizer: "mas no sidur está escrito que quem reza sozinho não deve declamar os Treze Atributos." E agora?

Bom, mas também o Tachanun não se resume ao escrito na página 78, e aí? A verdade é para quem não conhece muita coisa, as primeiras preces do Tachanun já são súplicas suficientes na busca pelo arrependimento e reflexão nesse período pré-Yom Kipur.

Não se preocupe como fato de não fazer todas as rezas por completo. O que vale agora não é a quantidade de orações, mas sim, a qualidade delas, a devocão e o impacto que isso causa em nosso interior.

A seguir, quero apenas colocar algumas das belas frases do Tachanun, mas que só possuem valor se vierem carregadas de cavanah, de devoção e de arrependimento:

"Sabemos, ó Eterno que pecamos e que nada mais existe que nos defenda senão o Teu Grande Nome, que nos protege na hora da angústia. Sabemos que carecemos de boas ações; faze conosco justiça por amor do Teu Nome! Assim como um pai tem compaixão de seus filhos, tenha compaixão de nós, ó Eterno!"

"Protege, Eterno, o Teu povo, e salva-nos da Tua cólera; afasta de nós a ferida da epidemia e dos duros decretos, pois Tu és o Guardião de Israel. De Ti, Eterno, provém a justiça; de nós, o rubor da vergonha. Do que podemos queixar-nos? O que temos a falar? O que temos a dizer? Como nos justificarmos? Procuraremos nossos caminhos e averiguaremos, e voltaremos a Ti, pois Tua mão direita está sempre estendida para receber os que retornam."

"Não existe como Tu, Eterno, nosso Deus, cheio de graça e misericórdia. Não existe como Tu, Deus tolerante e abundante em benignidade e verdade. Salva-nos e tem piedade de nós! Salva-nos dos percalços e da raiva! Lembra-Te de Teus servos Abraão, Isaac e Jacob; não olhes para a nossa teimosia, nossa maldade e nossos pecados..."

Se o escrito acima se tornarem para nós mais do que belas palavras, mas um sincero arrependimento, então esse Elul já terá valido a pena, esse shofar será para nós um despertar para uma vida nova, e que 5774 seja um ano cheio de graça, misericórdia e paz para nós e nossos filhos.

Faça soar o seu shofar, pois o Rei está no Campo!!

quinta-feira, agosto 08, 2013

Elul - O Rei está no Campo, aproveite!


Como já sabemos, Elul, o último mês do calendário judaico nos evoca a um período de reflexão sobre nossos erros, arrependimento e a busca pelo perdão. Esse período é ilustrado com uma conhecida parábola judaica:
 
“Uma vez por ano, um rei muito poderoso deixa seu palácio, seus guardas, seu luxo e vai até o campo para encontrar seus súditos. Enquanto o Rei estiver no campo, as pessoas podem perguntar o que quiserem a ele. Elas não necessitam esperar em longas filas, passar por seguranças, ou agendar uma entrevista. Podem falar com ele sem hesitação. No entanto, uma vez que o rei tenha retornado a seu palácio, os súditos terão de passar por todos os tipos de protocolos para, quem sabe, encontrá-lo. Obviamente, os moradores do reino, que forem espertos, devem aproveitar a oportunidade ao máximo quando o rei está no campo.”
 
Essa era oportunidade de buscar a misericórdia do Rei, receber seu perdão, enfim, estar diante dEle. Infelizmente nem todos sabem aproveitar essa chance. Procurei uma situação semelhante nos escritos bíblicos e adivinha: encontrei algo perfeito e que se encaixa com nossa vida atual.
 
Nossos sábios dizem que Elul é o período em que o REI (Eterno) está no campo. Esse período, o último mês do calendário, vem na sequência de dois outros meses, chamados de Tammuz e Av, período onde ocorreram dois grandes pecados na história de nosso povo: “o bezerro de ouro” e o “episódio dos espias”. Em ambos, o povo, mesmo aparentemente sem querer, estaria “se afastando” do Eterno, do Rei.
 
Lendo na Torah, temos: Gn 3:8 - E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim.
 
Se observarmos atentamente a situação perceberemos que Adam e sua esposa haviam pecado, comendo do fruto que não lhes era permitido, e ao perceberem que O REI PASSEAVA PELO CAMPO, se esconderam.
Ao se esconderem, procuraram ocultar seu erro diante do Rei, e isso lhes trouxe o castigo. Corrobora negativamente o fato de ninguém assumir seus próprios erros, mas Adam culpou a Eva, que culpou a serpente, que já não tinha a quem culpar.
 
Se queremos o perdão, devemos aproveitar a oportunidade que o Rei nos dá, e buscar por isso. Não culpar nada nem ninguém ajuda a percebermos a dimensão de nossos pecados. Quando colocamos a culpa nos outros, isso “ameniza” o sentimento de culpa.
 
Não por acaso, nestes mesmos meses, em 17 de Tammuz e 9 de Av, temos o período em que os Romanos invadiram Jerusalém até a destruição do Templo. Consequências do distanciamento do povo israelita de Seu D-us.
 
Já que temos esse período, vamos aproveitar, porque o Rei está no campo. Apresente-mos diante dEle, e estejamos dispostos a pedir perdão.
Nesse período especificamente, recitamos todos os dias as Selichot, o Vidui e o tachanun, que basicamente, são preces de arrependimento e confissão de pecados.
 
Como já disse no post anterior, também é de praxe que toquemos o shofar diariamente, para nos despertar ao arrependimento. Há no pecado uma grande dificuldade; como reconhecer que erramos? se observarmos os exemplos bíblicos, de homens muito mais sábios que nós, perceberemos que não é tarefa das mais fáceis. Vejamos por exemplo:
 
JÓ - Quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado. (Jó 13:23)
 
DAVID - Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. (Sl 19:12,13)
 
A soberba a que David se refere vem do fato do homem não reconhecer-se como pecador. Na maioria das vezes, quando acusamos o pecado de alguém, não somos capazes de observar em nós também. David, rei de Israel, precisou que o profeta Natã lhe contasse uma parábola, para que ele fosse capaz de reconhecer o grave pecado que cometera. (2 Sm 11:1-7) Da mesma forma, o rei Saul precisou que o profeta Samuel lhe mostrasse seu erro.
 
SAUL - Então, disse Saul a Samuel: Pequei, pois transgredi o mandamento do SENHOR e as tuas palavras; (1 Sm 15:24) Eles e muitos outros cometeram seus erros, e quem somos nós para julgarmos quem pecou mais gravemente?
 
A diferença está na atitude, que fez de David um homem segundo o coração do Eterno (At 13:22)
 
Sl 32:5 - Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. Vejamos e aprendamos com a oração do rei David:
 
Sl 51:1-13 - Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.Lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado.Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal, para que sejas justificado quando falares e puro quando julgares. Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria.Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados e apaga todas as minhas iniqüidades.Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão.
 
Quem sabe se tivermos o espírito de David, rei, homem, pecador, de coração sincero, e formos capazes de aproveitar que O REI ESTÁ NO CAMPO, o Eterno faça de nós como fez de David; um homem capaz de ensinar aos transgressores os Teus caminhos, e fazer com que os Pecadores a Ti se convertam.

quarta-feira, agosto 07, 2013

Elul: Reflexão, Arrependimento e Perdão

 
 
Como já sabemos, Elul, o último mês do calendário judaico nos evoca a um período de reflexão sobre nossos erros, arrependimento e a busca pelo perdão. Nos 40 dias que há entre o início de Elul e o dia de Yom Kipur devemos nos aplicar à essa reflexão. Mas quem nos absolve? quem nos condena? Que tipo de sentimentos devem estar dentro de cada um de nós?
 
Ec 7:20 - Na verdade, não há homem justo sobre a terra, que faça bem e nunca peque.
 
Na Brit Chadashah lemos: Rm 3:23,24 - Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há no Mashiach Yeshua.
 
É evidente que todos somos pecadores, que sempre vemos o pecado alheio como mais grave que o nosso próprio, e juntos, todos carecemos do perdão Divino. Perdão este que só vem através do derramamento de sangue, conforme Lv 17:11 (porque é o sangue que fará expiação pela alma) e Hb 9:22 (sem derramamento de sangue não há remissão de pecados).
 
Por isso Shaul HaShaliach, em sua carta aos Romanos, nos diz que somos justificados pela redenção que há no Mashiach. Uma vez entendendo este aspecto do perdão, vamos analisar dois personagens: Kefah e Yehudah (Pedro e Judas).
 
Pedro, bom discípulo, meio impetuoso, mas sempre firme e fiel, num momento de dificuldade do Mashiach, lhe disse: “Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei.” Yeshua o alertou e disse: “Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negará.” E Pedro ainda respondeu: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, não te negarei.” (Mt 26:33-35)
 
Sim, ele estava convicto, era um bom servo, exemplo, mas tinha um defeito: Pedro era “confiante demais de que nunca erraria” e esse é o defeito de muitos de nós: excesso de auto-confiança.
Basta observarmos quantas vezes dizemos (ou ouvimos alguém dizer): “Eu posso ter todos os defeitos, mas tal coisa eu NUNCA FARIA” normalmente no momento em que alguém comete o tal erro.
A verdade é que não sabemos, não somos infalíveis, e que, como seres humanos, pecamos. Shaul HaShaliach disse: Rm 7:14,15 - “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.
 
A verdade é que, mesmo tendo sido avisado, Pedro NEGOU a Yeshua, por três vezes seguidas, e na terceira vez, o galo imediatamente cantou. (Mt 26:69-74) Foi como um toque do shofar em Elul, o despertou do erro, do seu pecado. C
omo pode ser? Eu neguei Yeshua três vezes, não acredito! Como vou conviver com essa culpa? De certo dezenas de coisas passaram pela cabeça de um agora atormentado Pedro. E o que ele fez?
Mt 26:75 - E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe dissera: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, saindo dali, chorou amargamente.
 
Num outro texto, em João, já após a ressurreição de Yeshua, os dois se reencontram, e o Mestre faz então, por três vezes a mesma pergunta: “Tu me amas?” E Pedro respondeu: “Tu sabes que eu te amo” E Yeshua conclui: “Então apascenta minhas ovelhas”
Isso representa que pelas mesmas três vezes que Pedro houvera negado o Mestre, veio-lhe o arrependimento sincero, e Yeshua fez com que vissem que sim, apesar de tê-lo negado, Pedro O amava, e foi digno de ser escolhido para “apascentar as ovelhas”
Mais do que meramente uma estorinha, isso mostra que um pecador, arrependido de seus erros, pode ser útil a tal ponto de cuidar do rebanho do Mestre.
 
Agora vamos entender Judas, o que ele fez? Ele havia vendido o Mestre, o traído com um beijo, (Mt 26:14,15,48,49,50) e viu Yeshua ser levado pelos guardas para a prisão. Mesmo antes da morte de Yeshua, Judas se deu conta do tamanho do erro que cometera, e o texto diz:
Mt 27: 3,4 - Então, Judas, o que o traiu, vendo que Jesus fora condenado, tocado de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo.
 
Os ancião falaram certo a Judas: “Isso é contigo. O que você vai fazer com seu erro, agora não é problema nosso, é teu.”
Aquilo que fazemos com nossos erros é problema nosso. E nisso há dois caminhos: buscar o perdão Divino, através do arrependimento sincero, da confissão e de abandonar o erro, ou fugir, mas para onde?
 
O único lugar encontrado por Judas para fugir de seus erros foi a forca, onde encontrou a morte.
Mt 27: 5 - E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.
Infelizmente, ele não encontrou lugar (em si mesmo) para arrependimento e essa é a diferença básica entre as atitudes de Pedro e Judas. Pois qual o pecado foi maior? Ambos traíram o Mestre, Pedro ainda foi avisado antes, quer dizer, poderia se previnir, se cuidar, evitar o pecado, mas não conseguiu.
 
Elul é nossa oportunidade de buscar o sincero arrependimento, o perdão dos pecados, e saber que sim, ele é possível:
1 Jo 2:1,2 - Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Yeshua HaMashiach, haTsadik; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.
 
Que esse período de reflexão possa conduzir a todos nós na direção de um sincero arrependimento, e como Pedro, possamos ouvir o galo cantar (ou o som do shofar a ecoar) e encontrarmos espaço para um perdão de nossos pecados. Quem sabe, mesmo que sejamos todos injustos, o Eterno em Sua infinita misericórdia nos conceda o perdão, através do derramamento do sangue do Cordeiro perfeito. Que assim seja!