Como já sabemos, Elul, o último mês do calendário judaico nos evoca a um período de reflexão sobre nossos erros, arrependimento e a busca pelo perdão. Esse período é ilustrado com uma conhecida parábola judaica:
“Uma vez por ano, um rei muito poderoso deixa seu palácio, seus guardas, seu luxo e vai até o campo para encontrar seus súditos.
Enquanto o Rei estiver no campo, as pessoas podem perguntar o que quiserem a ele. Elas não necessitam esperar em longas filas, passar por seguranças, ou agendar uma entrevista. Podem falar com ele sem hesitação. No entanto, uma vez que o rei tenha retornado a seu palácio, os súditos terão de passar por todos os tipos de protocolos para, quem sabe, encontrá-lo. Obviamente, os moradores do reino, que forem espertos, devem aproveitar a oportunidade ao máximo quando o rei está no campo.”
Essa era oportunidade de buscar a misericórdia do Rei, receber seu perdão, enfim, estar diante dEle. Infelizmente nem todos sabem aproveitar essa chance.
Procurei uma situação semelhante nos escritos bíblicos e adivinha: encontrei algo perfeito e que se encaixa com nossa vida atual.
Nossos sábios dizem que Elul é o período em que o REI (Eterno) está no campo. Esse período, o último mês do calendário, vem na sequência de dois outros meses, chamados de Tammuz e Av, período onde ocorreram dois grandes pecados na história de nosso povo: “o bezerro de ouro” e o “episódio dos espias”. Em ambos, o povo, mesmo aparentemente sem querer, estaria “se afastando” do Eterno, do Rei.
Lendo na Torah, temos:
Gn 3:8 - E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim.
Se observarmos atentamente a situação perceberemos que Adam e sua esposa haviam pecado, comendo do fruto que não lhes era permitido, e ao perceberem que O REI PASSEAVA PELO CAMPO, se esconderam.
Ao se esconderem, procuraram ocultar seu erro diante do Rei, e isso lhes trouxe o castigo. Corrobora negativamente o fato de ninguém assumir seus próprios erros, mas Adam culpou a Eva, que culpou a serpente, que já não tinha a quem culpar.
Se queremos o perdão, devemos aproveitar a oportunidade que o Rei nos dá, e buscar por isso. Não culpar nada nem ninguém ajuda a percebermos a dimensão de nossos pecados. Quando colocamos a culpa nos outros, isso “ameniza” o sentimento de culpa.
Não por acaso, nestes mesmos meses, em 17 de Tammuz e 9 de Av, temos o período em que os Romanos invadiram Jerusalém até a destruição do Templo. Consequências do distanciamento do povo israelita de Seu D-us.
Já que temos esse período, vamos aproveitar, porque o Rei está no campo. Apresente-mos diante dEle, e estejamos dispostos a pedir perdão.
Nesse período especificamente, recitamos todos os dias as Selichot, o Vidui e o tachanun, que basicamente, são preces de arrependimento e confissão de pecados.
Como já disse no post anterior, também é de praxe que toquemos o shofar diariamente, para nos despertar ao arrependimento.
Há no pecado uma grande dificuldade; como reconhecer que erramos? se observarmos os exemplos bíblicos, de homens muito mais sábios que nós, perceberemos que não é tarefa das mais fáceis. Vejamos por exemplo:
JÓ - Quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado. (Jó 13:23)
DAVID - Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. (Sl 19:12,13)
A soberba a que David se refere vem do fato do homem não reconhecer-se como pecador. Na maioria das vezes, quando acusamos o pecado de alguém, não somos capazes de observar em nós também.
David, rei de Israel, precisou que o profeta Natã lhe contasse uma parábola, para que ele fosse capaz de reconhecer o grave pecado que cometera. (2 Sm 11:1-7) Da mesma forma, o rei Saul precisou que o profeta Samuel lhe mostrasse seu erro.
SAUL - Então, disse Saul a Samuel: Pequei, pois transgredi o mandamento do SENHOR e as tuas palavras; (1 Sm 15:24)
Eles e muitos outros cometeram seus erros, e quem somos nós para julgarmos quem pecou mais gravemente?
A diferença está na atitude, que fez de David um homem segundo o coração do Eterno (At 13:22)
Sl 32:5 - Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado.
Vejamos e aprendamos com a oração do rei David:
Sl 51:1-13 - Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.Lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado.Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal, para que sejas justificado quando falares e puro quando julgares. Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria.Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados e apaga todas as minhas iniqüidades.Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão.
Quem sabe se tivermos o espírito de David, rei, homem, pecador, de coração sincero, e formos capazes de aproveitar que O REI ESTÁ NO CAMPO, o Eterno faça de nós como fez de David; um homem capaz de ensinar aos transgressores os Teus caminhos, e fazer com que os Pecadores a Ti se convertam.
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