Dt 16:4 “Fermento não se achará contigo por sete dias, em todo o teu território...”
Enfim se passaram os sete dias de Pessach e de repente nos deparamos com o “Shemini Shel Pessach”, um oitavo dia sem fermento, comendo matzah e vivendo do “pão da miséria”.
Esse ano, como Pessach encerrou na sexta-feira, não dava para preparar a chalah, ou comprar pão, e agora entramos no shabat, cumprindo oito dias sem fermento. Literalmente “shemini” o oitavo dia de pessach, ainda que o mandamento da Torah seja SETE dias.
Não há como negar que é meio complicado essa semana, quando antes temos que limpar nossa casa e tirar toda bolachinha, chocolate, pão, e demais delicias que estamos acostumados. Não é nenhum drama, nada impossível, mas é esquisito ficar sem fermento.
Toda vez se fala sempre do fermento da maledicência, mas hoje quero meditar sobre outras coisas, chega de falar de lashon harah.
Estava lendo o texto da Torah para esse dia, e fui consultar o que diz o livro Torati (esse livro foi uma febre em nosso meio anos atrás, todo mundo queria ter como fonte de consulta, depois meio que caiu no esquecimento) e na página 643, ele propoe uma mensagem, dizendo: “Deus quer que você se alegre com o que possui e reconheça nEle o seu Provador. Dê o máximo de si a Deus: Ele poderá lhe retribuir com lucros.”
O livro ainda propoe um exercício: “Faça uma lista dos bens significativos que você possui. Avalie como seria sua vida sem cada um deles.”
Que sugestões interessantes!
Ficamos uma semana sem fermento, nos adaptamos, eventualmente reclamamos de faltar o pãozinho quentinho, mas quantos se lembram de agradecer por termos o pão durante os demais 360 dias do ano?
Nos habituamos a ter o alimento constantemente que tendemos a não valorizar isso como uma grande bênção de nosso Provedor.
Pirkê avot nos diz: “A quem deve o homem considerar rico? Aquele que está feliz com o que possui.” E é bem isso mesmo!
E se comêssemos matzot durante o ano todo? E se tivéssemos que viver sem o nosso conforto dos bens mais valiosos que possuímos?
Aos que possuem carro, pensem: como seria sua vida sem carro? Aos que possuem casa própria? Como seria sua vida se tivesse que viver numa casa mais simples, alugada?
Essa também é uma lição de Shemini Shel Pessach, sermos capazes de viver um dia a mais sem fermento. Fermento também representa o orgulho, pois o alimento levedado fica “inchado”, e o orgulho é incompatível com a gratidão, que é um sentimento encontrado em pessoas humildes.
Não por acaso, após o shabat de pessach começamos a contar sete semanas, e chegamos à shavuot, e a Torah diz:
Dt 16: 10,11 - “E celebrarás a Festa das Semanas ao SENHOR, teu Deus, com ofertas voluntárias da tua mão, segundo o SENHOR, teu Deus, te houver abençoado. Alegrar-te-ás perante o SENHOR, teu Deus, tu, e o teu filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita que está dentro da tua cidade, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que estão no meio de ti, no lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para ali fazer habitar o seu nome.”
É nosso dever demonstrar gratidão ao Eterno, apresentando nossas ofertas voluntárias perante Ele, reconhecendo que dEle provém todas as nossas bênçãos. E devemos nos alegrar com isso, e a alegria deve contagiar todos que estão à nossa volta, nossos filhos, filhas, servos, levitas, estrangeiros, enfim, todos devem compartilhar de nossa alegria.
Em Shavuot, somos ensinados que essa é a data da outorga da Torah a Israel, conforme nos conta a tradição judaica. E como seremos capazes de receber a Torah?
Depois de tirarmos o fermento, de experimentar novamente sair do Egito, cruzar o Mar Vermelho, comer pães asmos durante sete dias, nos “desincharmos” do orgulho e reconhecermos as bênçãos provenientes do Eterno. Só aí, quando alguém nos perguntar, qual o bem mais valioso que possuímos, diremos: “A TORAH” E só quando formos capazes de encontrar na Torah, nosso bem mais valioso, a receberemos de verdade, e aí veremos que é chegado Shavuot, o dia da nossa alegria.
E como é bom contar os dias pra que isso ocorra, então contemos juntos: estamos no dia sete da contagem. Daqui a seis semanas nos encontraremos com a doce lembrança do dia em que a Torah nos dada como bem mais precioso.
Shabat Shalom e feliz oitavo dia sem fermento!