sexta-feira, abril 10, 2015

Reflexões para o dia: Shemini Shel Pessach (Oitavo dia de Pessach)



Dt 16:4 “Fermento não se achará contigo por sete dias, em todo o teu território...”

Enfim se passaram os sete dias de Pessach e de repente nos deparamos com o “Shemini Shel Pessach”, um oitavo dia sem fermento, comendo matzah e vivendo do “pão da miséria”. 
Esse ano, como Pessach encerrou na sexta-feira, não dava para preparar a chalah, ou comprar pão, e agora entramos no shabat, cumprindo oito dias sem fermento. Literalmente “shemini” o oitavo dia de pessach, ainda que o mandamento da Torah seja SETE dias. 
Não há como negar que é meio complicado essa semana, quando antes temos que limpar nossa casa e tirar toda bolachinha, chocolate, pão, e demais delicias que estamos acostumados. Não é nenhum drama, nada impossível, mas é esquisito ficar sem fermento. 
Toda vez se fala sempre do fermento da maledicência, mas hoje quero meditar sobre outras coisas, chega de falar de lashon harah. 
Estava lendo o texto da Torah para esse dia, e fui consultar o que diz o livro Torati (esse livro foi uma febre em nosso meio anos atrás, todo mundo queria ter como fonte de consulta, depois meio que caiu no esquecimento) e na página 643, ele propoe uma mensagem, dizendo: “Deus quer que você se alegre com o que possui e reconheça nEle o seu Provador. Dê o máximo de si a Deus: Ele poderá lhe retribuir com lucros.” 
O livro ainda propoe um exercício: “Faça uma lista dos bens significativos que você possui. Avalie como seria sua vida sem cada um deles.”

Que sugestões interessantes! 
Ficamos uma semana sem fermento, nos adaptamos, eventualmente reclamamos de faltar o pãozinho quentinho, mas quantos se lembram de agradecer por termos o pão durante os demais 360 dias do ano? 
Nos habituamos a ter o alimento constantemente que tendemos a não valorizar isso como uma grande bênção de nosso Provedor. 
Pirkê avot nos diz: “A quem deve o homem considerar rico? Aquele que está feliz com o que possui.” E é bem isso mesmo! 
E se comêssemos matzot durante o ano todo? E se tivéssemos que viver sem o nosso conforto dos bens mais valiosos que possuímos? 
Aos que possuem carro, pensem: como seria sua vida sem carro? Aos que possuem casa própria? Como seria sua vida se tivesse que viver numa casa mais simples, alugada?

Essa também é uma lição de Shemini Shel Pessach, sermos capazes de viver um dia a mais sem fermento. Fermento também representa o orgulho, pois o alimento levedado fica “inchado”, e o orgulho é incompatível com a gratidão, que é um sentimento encontrado em pessoas humildes. 

Não por acaso, após o shabat de pessach começamos a contar sete semanas, e chegamos à shavuot, e a Torah diz: 
Dt 16: 10,11 - “E celebrarás a Festa das Semanas ao SENHOR, teu Deus, com ofertas voluntárias da tua mão, segundo o SENHOR, teu Deus, te houver abençoado. Alegrar-te-ás perante o SENHOR, teu Deus, tu, e o teu filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita que está dentro da tua cidade, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que estão no meio de ti, no lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para ali fazer habitar o seu nome.”

É nosso dever demonstrar gratidão ao Eterno, apresentando nossas ofertas voluntárias perante Ele, reconhecendo que dEle provém todas as nossas bênçãos. E devemos nos alegrar com isso, e a alegria deve contagiar todos que estão à nossa volta, nossos filhos, filhas, servos, levitas, estrangeiros, enfim, todos devem compartilhar de nossa alegria. 

Em Shavuot, somos ensinados que essa é a data da outorga da Torah a Israel, conforme nos conta a tradição judaica. E como seremos capazes de receber a Torah? 
Depois de tirarmos o fermento, de experimentar novamente sair do Egito, cruzar o Mar Vermelho, comer pães asmos durante sete dias, nos “desincharmos” do orgulho e reconhecermos as bênçãos provenientes do Eterno. Só aí, quando alguém nos perguntar, qual o bem mais valioso que possuímos, diremos: “A TORAH” E só quando formos capazes de encontrar na Torah, nosso bem mais valioso, a receberemos de verdade, e aí veremos que é chegado Shavuot, o dia da nossa alegria. 

E como é bom contar os dias pra que isso ocorra, então contemos juntos: estamos no dia sete da contagem. Daqui a seis semanas nos encontraremos com a doce lembrança do dia em que a Torah nos dada como bem mais precioso. 

Shabat Shalom e feliz oitavo dia sem fermento!

quarta-feira, abril 08, 2015

Reflexões para o dia: O que nos alimenta? Lixo ou Bondade!



Rm 12:21 “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”

Nesse antepenúltimo dia de Pessach, em que passamos uma semana longe do fermento, é bom refletir sobre algumas coisas como: o que nos alimenta? Estamos na contagem do Omer, isso tem feito alguma diferença pra mim? Vale a pena fazer o certo? E mais coisas, pois esses cinquenta dias entre Pessach e Shavuot são também dias de reflexão. 

O que te alimenta? Essa é uma pergunta válida, pois é dito: você é o que você come! Se você acorda cedo, faz sua oração, lê a Torah, medita sobre algum texto bíblico, você se alimenta do espiritual, e isso vai fazer de você uma pessoa mais espiritual; nada mais óbvio. Mas também, por outro lado, se você acorda e vai direto ver o “jornal policial da manhã” que é puro sangue, crimes, é isso que te alimenta; ou ainda, você levanta e não vê a hora de entrar no facebook, pra ver o que fulano ou fulana postou, você está se alimentando do puro lixo. O fast food  do lixo. Alguém disse esses dias que o facebook tem se tornado num grande penico, onde as pessoas jogam todo tipo de excrementos. E é isso que nos alimenta?

O fato de eu não estar publicando diariamente meus devocionais não significa que eu não reze ou não medite mais, mas é que estamos perdendo muito tempo envolvidos em responder à Lashon Hara dos maledicentes (lembre-se, ainda estamos em Pessach, e portanto, é tempo de tirar o fermento). 

A contagem do Omer está aí, pra nos lembrar nestas sete semanas de que é necessário aperfeiçoar nossos traços de caráter, nossas midot. Nessa primeira semana, a midá é aperfeiçoar nosso chessed, nossa bondade. E aí vem a pergunta: vale a pena ser bom?  Claro que sim! Eu não sou bom para os outros, eu sou bom porque isso é bom pra mim. D-us está nos vendo... se alguém se aproveita de minha generosidade, o problema é dessa pessoa, não meu. Não há erro em ser generoso.

Essa semana estava eu lendo em casa alguns livros sobre judaísmo e de repente me deparei com uma personagem que gosto muito da bíblia: Abigail!

A história fascinante dessa mulher está relatada em 1 Samuel 25 (vale a pena a leitura)  e nos mostra o quanto vale a pena ser bom.

Abigail era casada com um homem chamado Nabal, e a bíblia diz que ela era inteligente e bonita, mas o esposo era maligno e duro. (Me pergunto como uma mulher boa pode se casar com um homem assim? Só por generosidade mesmo)
Davi e seus homens haviam sido generosos com Nabal, e um dia os servos de Davi precisaram de um apoio e pediram pão a Nabal; eis a resposta dele: “Quem é Davi? E quem é o filho de Jessé?...” Ora, ele bem sabia, mas foi estúpido e ríspido. 

Aí que entra a bondade de Abigail na história.

Davi ficou revoltado com a atitude de Nabal, e mandou seus homens se armarem para destruirem Nabal, e um dos servos de Nabal contou toda a história a Abigail. Ela, então, pegou duzentos pães, vinho, carnes de ovelha, bolos, uvas passas, figos, e foi ao encontro de Davi e seu exército. 
Davi disse a ela: “Ele (Nabal) me pagou o mal, pelo bem que eu o fiz” E Abigail com seu jeito convenceu Davi a não destruir pessoas inocentes.
O próprio D-us fez com que Nabal adoecesse e morresse. E pra encurtar a história, Davi mandou que trouxessem a ele a viúva Abigail e se casou com ela. 

Enfim, vale a pena ser bom, vale a pena fazer o que é certo, ainda que as pessoas façam coisas erradas contra nós. Essa história mostra uma grande mulher, generosa, que não se deixava influenciar pela maldade do marido. 
A história mostra que valeu a pena a Davi ser bom (ainda que com Nabal) porque de tudo isso, ele ganhou do Eterno uma esposa sábia e bela. 
Quem diz que mulher viuva ou separada não consegue arrumar um novo casamento? Abigail casou-se com o Rei de Israel. Não porque ela era bonita, mas por quem ela era. 

Nessa primeira semana da contagem do Omer, é tempo de aperfeiçoarmos nossos traços de bondade... sei que tem algo de bom dentro de cada um de nós. Talvez nos falte tirar o fermento, tirar o lixo, e nos alimentarmos de algo bom... quando nos alimentamos de algo bom, nosso interior fica bom e não nos tornamos pessoas rancorosas, cheios de fel de amargura, porque sim, vale a pena ser bom, ainda vale a pena ser bom.

Que tal nessa sexta-feira, no último dia de pessach, yom tov, ao invés de entrar no facebook e se alimentar de lixos, a gente abrir a bíblia e se alimentar de belas histórias como a de Abigail e Davi. Quem sabe D-us não esteja abrindo a mente para que boas mulheres encontrem em seu caminho um casamento com um rei.... quem sabe D-us não esteja abrindo seus olhos para encontrar uma mulher cheia de sabedoria e generosidade como Abigail... quem sabe essa pessoa não seja nosso próprio cônjuge? 
Vale a pena ser bom, acredite nisso.